Por John O'Donnell e Marc Jones
FRANKFURT (Reuters) - O Banco Central Europeu (BCE) não tem planos para limitar ou reduzir seu programa de impressão de dinheiro, embora espere que a recuperação econômica da zona do euro se amplie e se fortaleça.
No mês passado o BCE embarcou num programa de compra de ativos com 60 bilhões de euros de dinheiro novo por mês, que segundo a instituição vai durar até pelo menos setembro de 2016.
"Nosso foco será sobre a implementação total de nossas medidas de política monetária", disse nesta quarta-feira o presidente do BCE, Mario Draghi.
"As compras devem ocorrer até o final de setembro de 2016 e, de qualquer modo, até que vejamos um ajuste sustentável na trajetória de inflação que seja consistente com nossa meta de alcançar taxas de inflação abaixo, porém próximas, de 2 por cento no médio prazo".
Na última leitura, os preços ao consumidor na zona do euro registraram queda de 0,1 por cento.
Draghi disse que está surpreso com a especulação sobre encerrar o programa de maneira antecipada, já que ele começou há apenas um mês.
A entrevista à imprensa de Draghi chegou a ser interrompida quando uma mulher de camiseta preta pulou na bancada. "Fim à ditadura do BCE", gritou ela, mas a entrevista foi retomada pouco tempo depois.
Mais cedo, o BCE manteve as taxas de juros em mínimas recordes no momento em que seu esquema de compra de títulos mostra sinais iniciais de estar impulsionando a economia da região.
A principal taxa de refinanciamento, que determina o custo do crédito, está agora em 0,05 por cento, enquanto a taxa de depósito do BCE, que tem a maior influência nas taxas de mercado, está em -0,2 por cento --o que significa que bancos pagam para deixar recursos no banco central.
AJUDA À GRÉCIA
Draghi disse que ajuda para a Grécia está firmemente nas mãos do governo grego, que ainda precisa apresentar um programa de reformas econômicas que seja aceitável para seus credores.
Autoridades do BCE sancionaram mais assistência de liquidez emergencial (ELA, na sigla em inglês) para bancos da Grécia até o limite de 74 bilhões de euros, disse uma fonte do setor bancário na terça-feira, um lembrete da situação financeira difícil na qual o país se encontra.
"Aprovamos a ELA e continuaremos a fazer isso, estendendo a liquidez para bancos gregos enquanto estejam solventes e tenham garantias adequadas", disse Draghi, acrescentando que não há data final para assistência de emergência.
O tempo está se esgotando para que Atenas melhore um pacote de reformas exigido para a liberação de empréstimos que precisa para se manter viva.
Se a Grécia, resgatada pela primeira vez em 2010 e novamente dois anos depois, no fim das contas sair do euro, isso representará um golpe à credibilidade da união monetária.
Mas por enquanto, o esquema de impressão de dinheiro de mais de 1 trilhão de euros para comprar principalmente títulos soberanos está sustentando a confiança.
"Através destas medidas contribuiremos para mais uma melhora da perspectiva econômica, uma redução da ociosidade econômica e uma recuperação no crescimento do crédito e do dinheiro", disse Draghi.
"Esperamos que a recuperação econômica se amplie e fortaleça de modo gradual".
O programa de estímulos já causou um aumento no valor de títulos e investidores estão questionando se o programa se tornará muito caro para que o BCE compre quantidade suficientes em países com as melhores avaliações, como a Alemanha.
Draghi disse que existem títulos suficientes para serem comprados. "Não vemos qualquer problema", disse ele. "Nosso programa é flexível o suficiente em qualquer evento para ser ajustado se as circunstâncias mudarem".
(Reportagem adicional de Jonathan Gould em Frankfurt, George Georgiopoulos em Atenas)