Por Balazs Koranyi e Francesco Canepa
DAVOS/FRANKFURT (Reuters) - O Banco Central Europeu (BCE) provavelmente elevará sua taxa básica de juros para acima de território negativo até o final de setembro e poderá subi-la ainda mais, disse a presidente do BCE, Christine Lagarde, nesta segunda-feira, depois que formuladores de política monetária defenderam a alta dos custos dos empréstimos por semanas.
"Com base na perspectiva atual, provavelmente estaremos em posição de sair das taxas de juros negativas até o final do terceiro trimestre", disse Lagarde em blog publicado no site do BCE.
O presidente do banco central francês, François Villeroy de Galhau, aliado próximo de Lagarde e considerado um centrista no Conselho de Diretores do BCE, pareceu apoiar a declaração e cimentou expectativas do mercado.
"Se você olhar para a declaração da presidente Lagarde nesta manhã, isso está provavelmente garantido, porque há um consenso crescente", afirmou Villeroy em um painel no Fórum Econômico Mundial em Davos.
"O principal problema, pelo menos no curto prazo, é a inflação, sem dúvida."
A taxa de depósito do BCE, seu principal instrumento de juros no momento, está em -0,5% atualmente, o que significa que bancos são cobrados para estacionar dinheiro no banco central, e está abaixo de zero desde 2014, já que o BCE enfrentou uma inflação baixa demais por anos.
O avanço dos preços na zona do euro atingiu um pico histórico de 7,4% em abril e até as métricas que eliminam alimentos e energia ultrapassaram em muito a meta de 2% do BCE.
Os mercados agora veem aumentos acumulados de 110 pontos-base nos juros do BCE neste ano, ou incrementos maiores que 0,25 ponto percentual em cada uma das reuniões de política monetária da instituição financeira a partir de julho.
Alguns temem que uma elevação da taxa básica de juros desacelerará ainda mais o crescimento e poderia empurrar a zona do euro, formada por 19 países, para a recessão, uma tese que Villeroy rejeitou. Ele afirmou que o bloco é resiliente.
"Eu minimizaria a ideia de um 'trade-off' de curto prazo entre inflação e crescimento. No curto prazo, nossa prioridade é claramente... combater a inflação."
O chefe do banco central alemão, Joachim Nagel, um defensor de longa data de juros mais altos, argumentou que um crescimento salarial relativamente rápido, uma pré-condição para uma inflação duradoura, provavelmente está chegando, outra justificativa para uma política monetária mais apertada.
Lagarde abriu a porta para mais altas de juros em direção ao que economistas chamam de nível neutro --uma taxa que deixa a produção econômica em linha com seu potencial-- ou mesmo acima dele.
"Se vermos a inflação se estabilizar em 2% no médio prazo, uma progressiva normalização dos juros em direção à taxa neutra será apropriada", acrescentou Lagarde.
"Se a economia da zona do euro estivesse superaquecendo como resultado de um choque positivo de demanda, faria sentido que os juros fossem aumentados sequencialmente acima da taxa neutra", disse ela.
Mas ela alertou que o ritmo e o tamanho desses incrementos da taxa básica não podem ser determinados no início, pois a economia enfrenta choques de oferta, como restrições contra a Covid-19 na China e interrupções relacionadas à guerra na Ucrânia.