Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil teve superávit comercial de 4,713 bilhões de dólares em março, desempenho acima do esperado pelo mercado num mês de forte queda no preço de commodities e revisões no crescimento global por conta do surto de coronavírus.
O dado, divulgado nesta quarta-feira pelo Ministério da Economia, também veio acima do saldo positivo de 4,296 bilhões de dólares de março de 2019.
Em pesquisa Reuters com analistas, a expectativa era de um superávit de 4 bilhões de dólares. As exportações em março somaram 19,239 bilhões de dólares, queda de 4,7% sobre igual período do ano passado, pela média diária. Enquanto as vendas de produtos semimanufaturados subiram 6,1%, as de manufaturados e básicos caíram 14,9% e 0,6%, respectivamente.
Já as importações alcançaram 14,525 bilhões de dólares, retração de 4,5% na mesma base de comparação.
Nesse caso, houve diminuição das compras de combustíveis e lubrificantes (-32,5%) e de bens de consumo (-19,3%), mas aumento em bens intermediários (+3,5%) e bens de capital (+2,8%). No primeiro trimestre do ano, o superávit da balança comercial foi de 6,135 bilhões de dólares, queda de 33,1% ante igual etapa de 2019, pela média diária, com o recuo de 3,7% na ponta das exportações, enquanto as importações subiram 2,6%.
Em nota, o Ministério da Economia avaliou que o comportamento do trimestre foi influenciado por um comércio mundial menos dinâmico, agravado pelo surto do Covid-19, que tem sido combatido mundo afora com medidas severas para redução do contágio.
Apesar do quadro, as exportações brasileiras para a China, sua maior parceira comercial, subiram 4,3% nos três primeiros meses do ano, "principalmente por conta de maiores vendas de carne bovina e suína, minério de ferro, soja e algodão".
Por outro lado, o ministério ressaltou que as vendas para Estados Unidos, União Europeia e Argentina caíram em março após aumentos em janeiro e fevereiro, num provável reflexo dos desdobramentos da pandemia.
"É importante ressaltar que quedas bruscas na demanda nos mercados de destino podem demorar meses para se refletirem em redução das exportações brasileiras. Parte das mercadorias exportadas possuem contratos de fornecimento de longa duração", pontuou.
"Além disso, as exportações são contabilizadas na saída da mercadoria do território nacional, e podem demorar 30 dias para chegar ao mercado de destino."
SALDO MAIS ALTO NO ANO
Por conta do coronavírus, a secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia decidiu adiar por um mês a previsão para a balança comercial em 2020, ante expectativa de divulgação nesta quarta-feira, mas já adiantou que o número deve vir melhor que o inicialmente visto pelo mercado.
"É possível que o valor das exportações seja menos afetado que o das importações, contribuindo para um saldo comercial, ao final de 2020, possivelmente maior do que a média das projeções de marcado do início do ano previam", afirmou a Secex, em nota.
Embora tenha admitido que os fluxos de mercadorias devem ser "duramente" afetados pelos efeitos da pandemia do Covid-19, a Secex apontou que as importações devem sofrer mais que as exportações, com o dólar mais caro reduzindo a demanda pela compra de produtos importados.
"As exportações, por sua vez, deverão ser mais afetadas por uma queda dos preços internacionais dos principais produtos da pauta exportadora brasileira, causada pelo baixo dinamismo da economia mundial", disse.
"O volume da pauta de produtos, entretanto, poderá ser menos afetado pela queda da demanda mundial, por ser composta, em grande medida, de produtos alimentícios e outros bens com menor elasticidade renda e pelo impacto positivo da desvalorização cambial", completou.
O Banco Central projetou recentemente uma ligeira melhora no superávit comercial deste ano, a 33,5 bilhões de dólares, sobre 32,0 bilhões de dólares estimados em dezembro.