SÃO PAULO (Reuters) -O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira que em nenhum momento, em sua viagem recente ao Marrocos, disse que a probabilidade de a autarquia desacelerar o ritmo de cortes da taxa básica Selic para 0,25 ponto percentual era maior que a de acelerar o ritmo para 0,75 ponto percentual, qualificando como "ruído" uma interpretação dada à questão.
"Uma das falas em Marrocos gerou um ruído lá, sobre um tema de qual era o balanço de riscos e o que a gente entendia que era a probabilidade de 25 ou 75 (pontos-base de corte da Selic). Eu em nenhum momento falei nada nem remotamente parecido com o que foi interpretado... (de que) uma probabilidade de uma coisa era maior que a outra", afirmou nesta quarta-feira Campos Neto, em evento em São Paulo.
De acordo com Campos Neto, houve de fato uma piora adicional no cenário internacional -- um dos fatores do balanço de riscos considerado pelo BC. Ele confirmou que a piora diminuía a probabilidade de um corte de 75 pontos-base da Selic, mas que isso não significa chances maiores de corte de 25 pontos-base.
"Quando muda a distribuição de 75, obviamente muda a distribuição do 25 também, mas em nenhum momento a gente falou que uma coisa era mais provável que a outra", afirmou o presidente do BC. "E se um dia a gente fosse dar uma mensagem como esta, jamais seria numa reunião fechada. Seria numa reunião aberta, em que todo mundo possa ter a informação ao mesmo tempo."
Durante evento do banco Credit Suisse (SIX:CSGN), Campos Neto reiterou a mensagem mais recente do BC, de que o corte de 50 pontos-base da Selic, atualmente em 12,75% ao ano, é o ritmo apropriado.
"A gente vai discutir na reunião do Copom... vai olhar as variáveis e ver o que este conjunto de variáveis mudou de uma reunião para outra. E a gente vai comunicar se tiver a percepção de que alguma coisa mudou. Este não é nosso cenário hoje", ressaltou.
Durante sua fala, Campos Neto também pontuou que os núcleos de inflação no Brasil têm apresentado algumas "surpresas positivas" e que a inflação no país está se comportando melhor que a média global.
"A gente viu agora, mais recentemente, algumas projeções, especialmente no ano de 2023, voltarem a cair um pouco, mas com o efeito de alguns dados da inflação corrente que têm saído", comentou.
Segundo ele, os preços administrados estão "subindo bastante", enquanto a alimentação no domicílio, que havia "caído bastante", agora parece ter se estabilizando.
"De uma forma geral, não tem nada dentro da figura qualitativa de inflação que esteja surpreendendo muito. Eu diria que está surpreendendo positivamente, um pouco, na parte qualitativa", avaliou.
No evento, Campos Neto também reiterou a importância de o governo perseverar no esforço para cumprir sua meta fiscal, a despeito das dificuldades. Ele notou que têm havido questionamentos sobre a capacidade de medidas propostas pelo governo melhorarem a arrecadação, mesmo que elas sejam aprovadas pelo Congresso.
ESTADOS UNIDOS
Ao abordar o cenário para os EUA, Campos Neto pontuou que atualmente “todos os olhos” estão voltados para a precificação da curva de juros norte-americana.
Em movimento visto desde agosto, os rendimentos dos Treasuries tiveram altas firmes, em especial entre os contratos mais longos, em meio à percepção de que o país manterá juros elevados por mais tempo.
Para Campos Neto, a grande pergunta é se parte da elevação das taxas dos títulos norte-americanos se deve também às preocupações com a área fiscal dos EUA.
O presidente do BC pontuou que nos EUA e em outros países desenvolvidos a rolagem da dívida pública está mais cara atualmente, na comparação com o período pré-pandemia, o que afeta a liquidez disponível aos países emergentes.
“Dado que a rolagem da dívida está muito mais cara para muitos países desenvolvidos, qual é o tamanho da retração da liquidez que isso vai gerar? O efeito liquidez é gigantesco”, disse.
(Por Fabrício de CastroEdição de Isabel Versiani e Luana Maria Benedito)