Por Juliana Schincariol
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Os lançamentos de imóveis de um quarto nas grandes cidades brasileiras ganharam espaço entre as construtoras e incorporadoras, mas especialistas da indústria alertam que o ciclo pode perder força no curto prazo, diante de investidores se mostrando menos afeitos aos riscos gerados pelas incertezas da economia.
Entre 2012 e 2013, a participação dos imóveis de até 1 dormitório nos lançamentos do país aumentou 5 pontos percentuais, de 8 para 13 por cento, segundo dados do grupo imobiliário Lopes.
Enquanto isso, os preços desse tipo de imóvel passaram de 6.310 reais o metro quadrado em 2011 para 7.140 reais no ano passado, numa equação que envolve localização mais privilegiada nos grandes centros e adição de instalações como salas de ginástica e espaço gourmet.
Apesar do preço, que chega a ser mais alto que o metro quadrado de um imóvel de dois dormitórios (4.950 reais) e até de um de três quartos (5.420 reais), as vendas de imóveis de um quarto ainda têm mostrado força.
Dados mais recentes da cidade de São Paulo, por exemplo, mostraram que este tipo de moradia teve alta anual de 12,8 por cento nas vendas de abril. Já as vendas de imóveis de 2 e 3 quartos caíram 58 e 36 por cento, respectivamente, de acordo com os dados do Secovi-SP, sindicato de habitação.
Diante desse movimento, as vendas das unidades de um quarto responderam por 33,3 por cento do total em abril, ante 18,2 por cento um ano antes. Já a fatia das unidades de dois quartos nas vendas no período caiu de 52,4 para 35,5 por cento.
"O que a gente percebeu neste último ciclo de lançamentos é que realmente foram desenvolvidos projetos de tamanhos menores. Como todo mundo foi (atrás), talvez houve um volume muito grande neste produto e agora (o movimento) realmente já está esgotando, como aconteceu com salas comerciais", disse à Reuters o diretor da incorporadora Tishman Speyer no Brasil, Daniel Cherman.
A piora do cenário econômico do país -- para crescimento de apenas apenas 1,1 por cento em 2014 e 1,5 por cento em 2015, segundo pesquisa do Banco Central -- e o excesso de lançamentos colaboram para alerta de especialistas do mercado sobre uma desaceleração no segmento de um quarto.
"A gente está passando por um ano em que investidores estão penando muito para fazer seus investimentos em diversos setores. O ano de 2014 já está muito alavancado para apartamentos de um quarto, este ano (os lançamentos) já estão bem menores", disse o diretor de negócios da Gafisa, Octavio Flores.
Para ele o cenário do segmento pode melhorar depois das eleições. "O ano de 2015 talvez seja um ano em que os investidores vão voltar com tudo", disse. Ele acrescentou que em alguns casos, os investidores podem ser parcela de mais de 50 por cento dos compradores de alguns imóveis de um quarto.
Mas antes, os imóveis de um quarto que já foram entregues precisam ser absorvidos para que se inicie um novo ciclo, agora voltado para moradias com mais quartos, de acordo com a diretora de atendimento da Lopes, Mirella Parpinelle.
"Agora vem uma nova demanda que não foi atendida, para imóveis de mais quartos", disse ela, acrescentando que ainda há espaço para unidades compactas por até um ano e meio, sobretudo em São Paulo.