BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central manteve nesta quarta-feira a Selic em sua mínima histórica, de 2% ao ano, conforme amplamente esperado pelo mercado, e retirou do seu comunicado o "forward guidance", por meio do qual mantinha o compromisso de não elevar os juros desde que algumas condições estivessem satisfeitas.
Veja comentários de profissionais do mercado financeiro:
CARLOS PEDROSO, ECONOMISTA-CHEFE, MUFG BRASIL
"O Copom não deixou claro qual o próximo passo. Ele colocou dentro do balanço de riscos que a incerteza sobre os casos de Covid pode afetar a atividade. Então, em termos de inflação, uma atividade mais fraca ajudaria. Por outro lado, a própria Covid aqui acaba gerando pressão para prorrogação do auxílio emergencial. Não fica claro o balanço desse pró e contra, mas, para mim, predomina a questão da atividade. De toda forma, com o fim do forward guidance, antecipamos nossa projeção de início de normalização da Selic de agosto para maio."
ROBERTO INDECH, ESTRATEGISTA-CHEFE, CLEAR CORRETORA
"O comunicado veio 100% em linha com o esperado, mas vale citar as referências a uma inflação de curto prazo um pouco mais para acima do que o esperado, às reformas e à incerteza sobre o ritmo de crescimento. No todo, fica claro que a preocupação de fato é a economia. Apesar de a inflação estar extremamente alta, haja vista leituras recentes do IPCA e do IGP-M, me parece que está sendo levado em conta muito mais em conta os efeitos da retirada do auxílio emergencial. O Copom não parece com pressa para subir juros e ainda haverá muito a acontecer até a próxima reunião de 16 e 17 de março --na lista estão os primeiros dias dos novos presidentes da Câmara e do Senado."
JOSÉ MÁRCIO CAMARGO, ECONOMISTA-CHEFE, GENIAL INVESTIMENTOS
"Nossa avaliação é de que o Banco Central deve iniciar a trajetória de normalização da política monetária a partir de agosto de 2021. A retirada do 'forward guidance' neste momento pode antecipar esse início de normalização da política monetária. Nossa estimativa é de que o nível neutro de juros reais no Brasil é 2%. Com a expectativa de inflação em torno de 3,5% nos próximos anos, isso significa chegar em uma taxa nominal de 5,5% no final de 2022."
JOÃO MANUEL CAMPANELLI, DIRETOR DE OPERAÇÕES, TRAVELEX BANK
"O Banco Central está bem posicionado e pode, a qualquer momento, fazer os ajustes que julgar adequados. No entanto, acredito que vamos aguardar os 45 dias até a próxima reunião do Copom, não vejo a necessidade de alguma medida urgente, mas entendo que o BC continuará fazendo suas intervenções no mercado, quando necessário, e deverá esperar todo o cenário da vacinação e da nova cepa se desenhar para começar a se posicionar com relação ao ajuste na taxa de juros."
(Por Gabriel Ponte e José de Castro)