Investing.com - O Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu nesta quarta-feira a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, dando prosseguimento ao afrouxamento monetário iniciado na reunião de julho. A queda de 5,5% para 5% ao ano está em linha com a previsão do mercado. É a menor taxa básica de juros da história recente.
A decisão foi unânime e o comunicado trouxe sinalizações de cortes adicionais nas próximas reuniões.
Em comunicado, BC garante novo corte.
"O Comitê avalia que a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir um ajuste adicional, de igual magnitude"
O passo a seguir, contudo, ainda é incerto.
"O Copom entende que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela em eventuais novos ajustes no grau de estímulo"
Retomada gradual e vacilante da atividade econômica, projeções cadentes da inflação oficial, inflação andando de lado em setembro e outubro e aprovação da reforma da Previdência abriram espaço para o Banco Central continuar com a política monetária estimulativa.
Copom disse, no comunicado:
"O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes."
Em relação à inflação, a expectativa de o índice oficial encerrar 2019 e 2020 abaixo do centro da meta. De acordo com último Boletim Focus, a projeção para o IPCA no encerramento de 2019 é de 3,29%, ante 3,26% na semana anterior, ficando abaixo do centro da meta de 4,25% e dentro da margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. Enquanto para o ano que vem a aposta é que a inflação oficial feche em 3,60%, contra 3,63% na semana anterior, também abaixo da meta de 4% estabelecido para o ano que vem.
Os últimos índices inflacionários referentes a setembro e outubro apresentaram bom comportamento e acenderam um sinal de alerta quanto à fragilidade da recuperação econômica. Isso porque o IPCA de setembro registrou deflação de 0,04%, a menor variação para o mês em 21 anos, enquanto o acumulado em 12 meses apresentou alta de 2,89%. Já o IPCA-15 de outubro, que mensura o nível de preço na primeira quinzena do mês, apresentou uma alta de 0,09% e acumulado de 12 meses em 2,72%.
Veja o comunicado completo abaixo
Em sua 226ª reunião, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 5,00% a.a.
A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
Indicadores de atividade econômica divulgados desde a reunião anterior do Copom reforçam a continuidade do processo de recuperação da economia brasileira. O cenário do Copom supõe que essa recuperação ocorrerá em ritmo gradual;
No cenário externo, a provisão de estímulos monetários adicionais nas principais economias, em contexto de desaceleração econômica e de inflação abaixo das metas, tem sido capaz de produzir ambiente relativamente favorável para economias emergentes. Entretanto, o cenário segue incerto e os riscos associados a uma desaceleração mais intensa da economia global permanecem;
O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente encontram-se em níveis confortáveis, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária;
As expectativas de inflação para 2019, 2020, 2021 e 2022 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,3%, 3,6%, 3,75% e 3,5%, respectivamente;
No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom situam-se em torno de 3,4% para 2019, 3,6% para 2020 e 3,5% para 2021. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2019 em 4,50% a.a., permanece nesse patamar ao longo de 2020 e se eleva até 6,38% a.a. em 2021. Também supõe trajetória para a taxa de câmbio que termina 2019 em R$ 4,00/US$, permanece nesse patamar ao longo de 2020 e encerra 2021 a R$3,95/US$; e
No cenário híbrido com taxa de câmbio constante a R$4,05/US$* e trajetória de juros da pesquisa Focus, projeta-se inflação em torno de 3,4% para 2019, 3,7% para 2020 e 3,6% para 2021.
O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, a combinação (i) do nível de ociosidade elevado e (ii) da potencial propagação da inflação corrente, por mecanismos inerciais, pode continuar produzindo trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, (iii) o atual grau de estímulo monetário, que atua com defasagens sobre a economia, aumenta a incerteza sobre os canais de transmissão e pode elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária. O risco (iii) se intensifica no caso de (iv) deterioração do cenário externo para economias emergentes ou (v) eventual frustração em relação à continuidade das reformas e à perseverança nos ajustes necessários na economia brasileira.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros para 5,00% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2020 e, em grau menor, o de 2021.
O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.
O Copom avalia que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira tem avançado, mas enfatiza que perseverar nesse processo é essencial para permitir a consolidação da queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes.
Na avaliação do Copom, a evolução do cenário básico e do balanço de riscos prescreve ajuste no grau de estímulo monetário, com redução da taxa Selic em 0,50 ponto percentual. O Comitê avalia que a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir um ajuste adicional, de igual magnitude. O Copom entende que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela em eventuais novos ajustes no grau de estímulo. O Comitê reitera que a comunicação dessa avaliação não restringe suas próximas decisões e enfatiza que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (Presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fernanda Feitosa Nechio, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.
*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis encerrados na sexta-feira anterior à reunião do Copom.