Por Felipe Machado, do Investing.com Brasil
O aumento da Selic em 1 p.p, para 12,75%, anunciado nesta quarta-feira pelo Copom, veio em linha com o previsto no último Boletim Focus. Porém, para analistas ouvidos pela reportagem de Investing.com, chamou a atenção o tom “duro” do comunicado, preocupado em ancorar expectativas, e a possibilidade de o ciclo de alta de juros ser maior ou mais longo que o esperado até agora.
O órgão do BC, ao justificar a alta da Selic, citou a deterioração das pressões globais inflacionárias desde sua última reunião, em março. “A inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente. Essa surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como nos itens associados à inflação subjacente”, disse a entidade em nota.
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Para Caio Megale, economista-chefe da XP (SA:XPBR31), o Copom sinaliza que essa piora no cenário é uma preocupação no radar. E a indicação do comunicado de que deve haver um novo aumento em junho, possivelmente menor, deixa claro esse ponto.
"Em nenhum momento, ele disse que vai parar [o ciclo de aperto monetário], ou que está pensando em parar. O comunicado veio direto, dizendo que as condições econômicas sugerem que o ciclo continue. É um pouco mais duro que o que o mercado esperava, que deixa a porta aberta para um ajuste um pouco mais intenso e longo que vinha sinalizando. Mesmo assim, continuamos achando que a Selic vai para 13,75%", disse o especialista.
Thomas Gibertoni, analista da Portofino Multi Family Office, vê preocupação da autoridade monetária em ancorar as expectativas dos agentes, sobretudo no longo prazo. Por isso, o tom mais “hawkish” adotado.
“O Copom deixa a porta aberta para um aumento além do da próxima reunião, o que o mercado ainda não coloca na conta, que pode fazer com que as curvas de juros ‘abram’ mais do que elas estão hoje”, explica Gilbertoni.
O analista de renda fixa da Suno Research Vinicius Romano também notou na nota o esforço em harmonizar as expectativas do mercado, visando que a meta de inflação seja cumprida. Ele, no entanto, avalia que as expectativas do mercado já estão próximas ao cenário sinalizado pelo Copom.
“No fechamento do pregão, antes da divulgação da nova Selic, a curva de juros brasileira já precificava esse e outro aumento pontual (aproximadamente 50 bps) em junho. Ao analisarmos o comunicado, observamos que os ajustes refletidos nos juros futuros estão, de certa forma, alinhados com o cenário do BC”, disse Romano.
Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, considera que o tom não é “duro” em razão das condições. Fatores como a crise do Covid-19, a guerra na Ucrânia e a desvalorização das moedas emergentes elevam a volatilidade e tornam o cenário mais incerto.
“Junto a isso, gente tem uma inflação alta e disseminada, o que geralmente, sinaliza uma maior persistência sobre os preços da economia. Vemos também como mais provável a necessidade de mais um aumento, de 0,5 p.p”, disse à Investing.com.