Anxo Lamela.
Copenhague, 4 jun (EFE).- A oposição de centro-esquerda parte como clara favorita nas eleições legislativas desta quarta-feira na Dinamarca, para as quais as pesquisas apontam uma queda do xenofóbico Partido Popular Dinamarquês (DF), "árbitro" da política nacional nas duas últimas décadas.
As últimas pesquisas situam a oposição com uma vantagem de entre 10 e 14 pontos, resultado que representaria o triunfo mais contundente da esquerda em quase 50 anos.
O Partido Social-Democrata, força dominante na segunda metade do século passado, mas que neste só governou de 2011 a 2015, pode subir até cerca de 30%, o que se deveria em parte ao giro à direita na política econômica e migratória iniciado há anos e intensificado com a atual líder do partido, Mette Frederiksen.
Apesar das pressões dos próprios aliados e das tentativas do bloco do governo de questionar sua credibilidade pela linha de abertura ao estrangeiro mais forte que a das demais forças da centro-esquerda, Frederiksen reiterou que não haverá mudanças sensíveis.
A intenção é governar sozinho, coordenando a política de imigração com a direita e as medidas sociais com o resto do bloco opositor, embora sem muitas variações.
Os dados macroeconômicos refletem o bom momento da Dinamarca, com um número recorde de empregos, um índice de desemprego abaixo de 4%, superávit no balanço de pagamentos, redução da dívida pública e crescimento anual de aproximadamente 2% nos últimos cinco anos. A contrapartida é a cada vez maior desigualdade.
Mais que o estado da economia, o primeiro-ministro, o liberal Lars Lokke Rasmussen, foi prejudicado pelas divisões internas do governo entre ultraliberais e a direita xenofóbica, que também se arrisca a perder seu papel decisivo.
O Partido Popular Dinamarquês manteve todos os dirigentes liberal-conservadores desde 2001 e provocou uma mudança profunda na discussão sobre imigração e asilo, atraindo toda a direita e parte da esquerda para suas posições.
Um escândalo sobre o uso fraudulento de ajudas de Bruxelas ainda não resolvido, a aceitação de suas ideias pela maioria dos partidos e os contatos com os social-democratas provocaram uma queda contínua do DF nas pesquisas nos últimos tempos.
Desde o histórico triunfo nas eleições do Parlamento Europeu em 2014 e o surpreendente segundo lugar nas legislativas do ano seguinte, o DF iniciou uma queda progressiva, impulsionada também pela recusa do partido a entrar no governo, apesar de ter mais votos que os liberais de Rasmussen para manter seu papel de "árbitro".
A derrota nas últimas eleições europeias, nas quais caiu para o quarto lugar, passando de 26,6% para 11%, foi um aviso para um partido que parece prejudicado com a aparição de duas forças mais radicais ainda em ascensão e com chances de entrar no parlamento.
Rasmussen chegou a propor no início da campanha uma grande coalizão do governo entre o seu partido e os social-democratas, algo que não ocorre há 40 anos, mas a ideia foi rejeitada pelo resto do bloco de direita e pela própria Frederiksen.