FRANKFURT (Reuters) - O Banco Central Europeu (BCE) ainda planeja reduzir os estímulos no final do ano, mas a inflação pode subir mais devagar do que o esperado, disse o presidente do BCE, Mario Draghi, nesta sexta-feira.
A economia da zona do euro desacelerou nos últimos meses em meio a uma demanda mais fraca da China, taxas de juros mais altas para os empréstimos em dólar em todo o mundo e preocupações com os mercados de títulos da Itália, onde o novo governo quer aumentar os gastos.
Draghi diz não ver "nenhuma razão" para esperar que a economia da zona do euro pare de se expandir e reduza o crescimento dos preços com isso. Mas ele alertou para o aumento da incerteza em torno das perspectivas.
"Se as empresas começarem a ficar mais incertas sobre as perspectivas de crescimento e inflação, a pressão sobre as margens poderá se tornar mais persistente", disse Draghi, numa conferência bancária.
"Isso afetaria a velocidade de inflação subjacente e, portanto, a trajetória de inflação que esperamos ver nos próximos trimestres", acrescentou. "Incertezas que cercam as perspectivas de médio prazo aumentaram."
O BCE ainda considera os riscos para as perspectivas de crescimento amplamente equilibrados, disse Draghi, mas vai reavaliar a situação em dezembro, quando novas previsões de crescimento e inflação serão disponibilizadas.
O banco central planeja encerrar seu programa de compra de 2,6 trilhões de euros em títulos no final deste ano e tem orientado os investidores a esperar o primeiro aumento das taxas de juros desde 2011 em algum momento no final do próximo ano.
Draghi manteve esses planos em seu discurso, mas advertiu que um aumento indevido nos custos de empréstimos da zona do euro mudaria o caminho para as taxas de juros, insinuando uma repercussão dos Estados Unidos ou os efeitos em cascata da Itália como possíveis razões.
"Se as condições financeiras ou de liquidez se endurecerem indevidamente ou se as perspectivas de inflação se deteriorarem, nossa função de reação está bem definida", disse Draghi. "Isso, por sua vez, deve se refletir em um ajuste na trajetória esperada das taxas de juros futuras."
Draghi não mencionou a Itália em seu discurso, mas alertou sobre o risco de uma ampliação dos spreads soberanos, uma medida de confiança dos investidores nas finanças públicas de um país.
"A falta de consolidação fiscal em países com dívidas elevadas aumenta sua vulnerabilidade a choques, independentemente de esses choques serem produzidos de forma autônoma, questionando as regras da arquitetura (da zona do euro) ou sendo importados através de contágio financeiro", disse.
"Até agora, o aumento dos spreads soberanos tem sido principalmente restrito ao primeiro caso e o contágio entre os países tem sido limitado", disse ele.