Economia global caminha para desacelerar em má hora para o País, dizem economistas da FGV

Publicado 13.03.2025, 14:11
Atualizado 13.03.2025, 17:40
© Reuters.  Economia global caminha para desacelerar em má hora para o País, dizem economistas da FGV

A economia mundial caminha para uma desaceleração com prejuízos generalizados, e o Brasil não é uma exceção, com o País provavelmente tendo perdas por conta da preocupação excessiva do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o aço. Além disso, o juro alto, a inflação resistente e o contexto de disputa presidencial que já se desenha para as eleições de 2026 complicam o quadro para o País, na avaliação de economistas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) no I Seminário de Análise Conjuntural, realizado pelo Ibre/FGV e pelo Estadão, nesta quinta-feira, 13.

Para o chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, José Júlio Senna, a chance de que Trump alcance o objetivo de "fazer a América grande novamente", girando em torno da perspectiva de reconstrução da indústria americana, "é quase zero, mínima realmente". "É até curioso, porque no mundo inteiro o segmento industrial destruiu empregos", afirmou.

Ele ressaltou que os indicadores dos primeiros meses de governo Trump já mostram uma desconfiança maior. "O acordo comercial entre Canadá, México e EUA foi negociado pelo próprio Trump na sua primeira administração, então ele mesmo assume e desfaz: como você vai confiar num país desse tipo?", questionou.

Senna avaliou que a tributação "excepcional" sobre aço e alumínio vem do pensamento de uma frase do próprio Trump de que o "país que não tem aço não é país". Assim, o presidente quer produzir aço dentro dos EUA, "o que é uma visão estreita em uma situação que poderia ser resolvida de outra maneira".

’IPCA mostra inflação super resistente’

Enquanto isso, no Brasil, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostra uma inflação "super resistente", o que indica um "momento desafiante para a política econômica". Contudo, os objetivos políticos estão vindo na contramão do que a gestão de uma política econômica recomendaria, na avaliação de Armando Castelar, pesquisador associado do Ibre/FGV.

"Há um processo de desaceleração que até certo ponto surpreendeu. Os primeiros dados que estamos vendo, PIB (Produto Interno Bruto), indústria, serviços, estão vindo relativamente fracos. E, não obstante, a inflação segue bastante alta. É verdade que fevereiro foi influenciado por dado de Itaipu, mas nos últimos 12 meses você vê uma inflação resistente", afirma Castelar.

Ele destacou ainda que "a própria ministra do Planejamento (Simone Tebet) disse nesta semana que o arcabouço não é sustentável daqui a dois anos, então o próprio governo vem apontando insustentabilidade fiscal".

’O Brasil pode ter alta bem forte do PIB no 1º tri por agro e consumo’

O Brasil pode ter um crescimento "bem forte" do PIB no primeiro trimestre de 2025 vindo do agro e com alguma recuperação no consumo, segundo a coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV, Silvia Matos.

Ela observou que o Brasil ainda está crescendo muito acima do potencial e tem déficit primário (saldo negativo entre a arrecadação e as despesas do governo, fora juros) e dívida elevada e crescente.

Na avaliação dela, a expectativa no trimestre é de uma desaceleração no consumo das famílias, mas ponderou que no início do ano há reajuste do salário mínimo em termos reais e o governo tem feito medidas adicionais para acelerar o consumo. "Então temos visão um pouco cautelosa sobre o ritmo (de consumo) das famílias, porque mostra o quanto a demanda do Brasil está pressionada, e isso reflete em mais ou menos inflação", afirmou.

Para 2025 fechado, a expectativa do Ibre/FGV é de que o crescimento do PIB fique "em torno de 1,7%". Contudo, será um dado mais "equilibrado", com commodities (matérias-primas cotadas em dólar), agricultura, indústria extrativa (expectativa de crescimento forte em petróleo em 2025 e 2026) e investimento, que mostrou sinal de recuperação já em 2024.

Matos ressaltou que "é importante que a parte da demanda, consumo, desacelere porque senão efeitos vão continuar na questão da inflação".

’Adiante, não em maio, o BC terá de pausar alta da Selic’

O Banco Central (BC) terá de pausar o ciclo de aperto monetário depois de maio "e dizer que não pode botar o juro em 17%, 18%", segundo o chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, José Julio Senna. "Acho que o BC vai ter de fazer o que bancos centrais do mundo fizeram no pós-pandemia: elevar juros (até certo ponto) e dizer que ’fiz o que dá para fazer, juros está em território restritivo e com isso vou conseguir a convergência da inflação’", afirmou.

A tese ocorre na esteira de que o BC vive um dilema para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A autoridade monetária precisa, ao mesmo tempo, manter firmeza, assegurando a reforçando de que a meta da inflação é de 3% - mas também sabendo que não pode ir longe demais, porque ficaria "totalmente insustentável".

Para Senna, a reunião do BC em maio é a chave, considerando que a reunião de março já conta com o forward guidance (tendência) de alta de 100 pontos-base (1 ponto porcentual). "Mercado aposta em alta de 50 pontos-base (0,50 ponto porcentual) no Copom de maio, o que é um bom call, mas meu viés é de alta. Acho que alta da Selic em maio pode ser de 75 pontos-base (0,75 ponto porcentual), em vez de 50 pontos-base", disse.

Ele avaliou que a desaceleração econômica não tende a ser muito forte. O dilema do BC ocorre, segundo Senna, em um contexto em que o "fiscal não ajuda e a estabilidade de preços não é o objetivo do governo como um todo".

Ele afirmou ainda que em 2025 e 2026 as reformas provavelmente terão menos discussão, menos espaço para debate, porque "a questão eleitoral e política acaba dominando, e acabamos perdendo oportunidade de aproveitar o nosso potencial".

’A grande âncora na expectativa de contas públicas é presidente não ser reeleito’

Armando Castelar, pesquisador associado do Ibre/FGV observou que a grande âncora nas expectativas das contas públicas é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não ser reeleito. A constatação se apoia na tese de que isso poderia levar o Brasil "a um governo com políticas fiscais mais conservadoras".

Castelar relembrou que, quando a pesquisa Datafolha, em fevereiro, apontou aumento na rejeição do governo Lula, "todos os ativos se valorizaram de forma significativa, com a visão de que haveria troca de governo e isso geraria mudança na política fiscal, em direção a uma política mais conservadora".

Por isso, o pesquisador também considera que a política fiscal do governo irá reagir às pesquisas eleitorais, focando no aumento de popularidade. "Se tiver aumento da popularidade do governo, isso reduz pressão na política fiscal. Mas paradoxalmente pode gerar mais pressão sobre o preço dos ativos", ponderou.

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