Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs passaram pela segunda sessão de forte alta nesta segunda-feira, superior a 25 pontos-base nos vencimentos mais longos, após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçar as dúvidas do mercado sobre a meta de primário zero em 2024, em um dia marcado ainda pela alta dos rendimentos dos Treasuries, pela criação de empregos formais acima do esperado no Brasil e pelo anúncio de dois novos diretores para o Banco Central.
Na sexta-feira, as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) já haviam avançado mais de 20 pontos-base em alguns dos principais contratos, depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar que a meta de resultado primário zero em 2024 dificilmente será alcançada e que o governo não quer cortar investimentos em obras.
Nesta segunda-feira, Haddad tentou minimizar e afirmou que o comentário de Lula não mostra descompromisso com a área fiscal.
“Quando falam 'o presidente está sabotando o país', não (é isso). O que está acontecendo é que o presidente está constatando os problemas advindos de decisões que precisam ser reformadas ou saneadas”, disse Haddad.
As explicações do ministro não convenceram, até porque ele não respondeu a repetidas perguntas sobre a manutenção da meta de déficit zero para 2024. Em meio aos receios com a área fiscal, as taxas futuras passaram a registrar altas firmes no Brasil -- superiores às dos rendimentos dos títulos norte-americanos no exterior --, com investidores colocando no preço um risco maior de descumprimento da meta.
“Pela lógica, não há como a taxa do DI no Brasil ficar mais baixa: como o fiscal começou a apontar para uma piora, os investidores passaram a colocar um pouco mais de prêmio na curva”, comentou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior.
“Não podemos nos esquecer também que o (yield do) Treasury de 10 anos andou desde setembro, e hoje ele está andando de novo”, acrescentou, ao justificar os níveis mais altos das taxas futuras no Brasil.
Além da desconfiança com o equilíbrio fiscal, os dados do mercado de trabalho brasileiro, divulgados durante a tarde, corroboraram o viés de alta para as taxas nesta segunda-feira.
O país criou 211.764 vagas de emprego formal em setembro, mostrou o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Previdência, em resultado acima do esperado por economistas. A estimativa da pesquisa da Reuters era de criação de 208,85 mil vagas. O dado seguiu reforçando o cenário de criação de vagas no Brasil.
Durante entrevista coletiva, Haddad também anunciou dois novos nomes para o Banco Central a partir de 2024, indicados por Lula: o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Paulo Picchetti, para a diretoria de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, e o servidor de carreira da autarquia Rodrigo Alves Teixeira, para a diretoria de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta.
Dois profissionais do mercado ouvidos pela Reuters receberam de forma positiva a indicação dos novos diretores. Teixeira seria um nome com pouco potencial de críticas, já que a diretoria de Relacionamento é tradicionalmente ocupada por servidores de carreira do BC.
Já Picchetti foi elogiado por ter conhecimento técnico profundo sobre a inflação no Brasil. Ele já coordenou o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e atualmente coordena o Índice de Preços ao Consumidor – Semanal (IPC-S) da FGV.
“É técnico”, resumiram as fontes ouvidas pela Reuters.
As indicações, que ainda precisam passar pelo Senado, não fizeram preço na curva a termo nesta segunda-feira.
No fim da tarde desta segunda-feira, alguns dos principais contratos -- em especial na ponta longa -- viram suas taxas subirem mais de 25 pontos-base.
A taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 11,14%, ante 10,983% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,065%, ante 10,796% do ajuste anterior.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,23%, ante 10,944%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,47%, ante 11,193%.
Perto do fechamento a curva a termo precificava em 97% as chances de o corte da taxa básica Selic nesta semana ser de 0,50 ponto percentual. Já as chances de corte de apenas 0,25 ponto percentual eram precificadas em 3%. Estes percentuais vêm se repetindo há duas semanas.
Atualmente, a Selic está em 12,75% ao ano. Na terça e na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC se reunirá para definir os rumos da taxa básica.
Às 16:38 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 3,40 pontos-base, a 4,8793%.