Por Howard Schneider
WASHINGTON (Reuters) - O Federal Reserve deve reduzir a taxa de juros em 25 pontos-base ao fim de sua reunião de política monetária nesta quinta-feira, mas pode precisar de uma nota de rodapé, dado o cenário econômico incerto que o banco central pode percorrer em breve sob um segundo governo do republicano Donald Trump.
A vitória do ex-presidente na eleição presidencial de terça-feira e o possível controle do Partido Republicano sobre as duas Casas do Congresso colocam em jogo mudanças no país, desde tarifas e cortes de impostos até a restrição da imigração, que podem reescrever as perspectivas de crescimento e inflação que os membros do Fed esperavam enfrentar no próximo ano.
Pode levar meses para que as propostas evoluam e passem pelo Congresso, mesmo com o controle total dos republicanos.
Mas os rendimentos dos Treasuries continuavam em alta na esteira dos resultados de terça e os investidores agora esperam que o Fed acabe cortando os juros menos do que o previsto anteriormente, à medida que fazem um balanço de um novo regime econômico que pode significar déficits federais mais altos, maior crescimento e maior inflação no curto prazo, além de trazer riscos de longo prazo.
"Com o passar do tempo, a direção dos déficits orçamentários, das tarifas... pode se tornar um problema" para o Fed administrar, disse Steven Blitz, economista-chefe da TSLombard para os EUA.
Depois de ter rédea solta para aumentar os juros a fim de combater a inflação, o banco central pode acompanhar as mudanças no comércio e nos fluxos de capital global desencadeadas pelas políticas do novo governo, enfrentando tanto o aumento dos preços quanto a pressão para manter o desemprego baixo, disse Blitz.
Em seu primeiro mandato, Trump pediu abertamente por juros baixos e acabou classificando o chair do Fed, Jerome Powell, como um "inimigo" por causa dos aumentos na taxa que, segundo ele, estavam sufocando desnecessariamente o crescimento, um pano de fundo turbulento para um relacionamento que será observado de perto nos próximos meses.
Trump foi quem promoveu Powell para liderar o Fed em 2018 e ele foi renomeado pelo presidente Joe Biden para um segundo mandato que vai até maio de 2026, que o chair disse que pretende concluir.
A expectativa geral é de que o Fed reduza sua taxa de juros para uma faixa entre 4,5% e 4,75% nesta quinta, após a redução de 50 pontos-base em setembro.
Entretanto, a confiança do mercado em relação ao que acontecerá em seguida começou a enfraquecer, com a expectativa atual de que o Fed encerre seu ciclo de cortes já em meados do próximo ano, com uma taxa na faixa de 3,75% a 4%.
Isso é um ponto percentual acima do nível de aproximadamente 2,9% que as autoridades do Fed projetaram em setembro. Também está bem acima da taxa de juros que fez com que Trump se revoltasse contra o Fed em seu primeiro mandato, quando atingiu um pico de cerca de 2,4%.
Mas o aperto da política monetária está sendo mantido para que a inflação retorne à meta de 2% do banco central - um processo de desinflação que o Fed acha que ainda não foi concluído e que Trump pode querer que continue, dado o grande papel que o aumento dos preços desempenhou na campanha.
As autoridades do Fed observaram antes da eleição que não definem a política monetária em reação às propostas de qualquer governo, mas tomam as decisões fiscais e regulatórias como algo "dado" e respondem apenas aos resultados econômicos que essas decisões geram.