Por Trevor Hunnicutt
NOVA YORK (Reuters) - Os empregadores dos Estados Unidos estão contratando trabalhadores, mas isso só está dificultando o trabalho do Federal Reserve.
Nesta sexta-feira, o Departamento do Trabalho informou que foram gerados, em termos líquidos, 224 mil empregos no mês passado --o maior número em cinco meses. Não é o tipo de mercado de trabalho que normalmente faria com que o banco central norte-americano cortasse as taxas de juros.
A contínua abertura de postos de trabalho torna ainda mais difícil a discussão entre formuladores de política monetária do Fed sobre se a economia precisa de estímulo, estabelecendo um possível impasse com os mercados na reunião do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto) dos dias 30 e 31 de julho.
"Eles estão em dificuldades", disse Karim Basta, economista-chefe da III Capital Management. "Na superfície, os dados, na minha opinião, não apoiam um corte iminente (dos juros), mas os mercados estão esperando, e eu acho que há um risco de decepção para os mercados neste momento."
Enquanto isso, o Fed está enviando sinais econômicos bastante otimistas depois de abrir a possibilidade de cortes no mês passado, quando autoridades do BC dos EUA citaram as baixas pressões inflacionárias e uma perspectiva econômica nublada por uma guerra comercial envolvendo os Estados Unidos e um crescimento global mais lento.
Em seu relatório semestral ao Congresso, o Fed repetiu nesta sexta-feira sua promessa de "agir da maneira apropriada" para sustentar a expansão econômica, com possíveis cortes de juros nos próximos meses. Mas o banco central norte-americano citou um mercado de trabalho fortalecido e descreveu a recente inflação fraca devido a "influências transitórias".
Os mercados estão apostando agressivamente que o próximo movimento do Fed será seu primeiro corte na taxa desde a crise financeira de uma década atrás. O presidente dos EUA, Donald Trump, renovou nesta sexta-feira sua demanda por taxas mais baixas para fortalecer a economia.
O presidente do Fed, Jerome Powell, que irá depor perante o Congresso na quarta e quinta-feira, tem afirmado repetidamente que o Fed toma decisões independentemente dos mercados e da Casa Branca. Contudo, não promover um corte de juros pode ditar baixas aos mercados de ações no curto prazo e prejuízos à economia.
Os futuros dos contratos de taxas de juros nos EUA caíram após os dados de empregos. O mercado ainda dá como quase certo corte de juros neste mês, mas praticamente descartou chances de redução agressiva de 0,50 ponto percentual.
"Um corte de juros em julho ainda é inevitável", disse Luke Bartholomew, estrategista de investimentos da Aberdeen Standard Investments. "O crescimento do emprego continua a ser um ponto bastante positivo em meio a um conjunto muito heterogêneo de dados dos EUA e, ainda assim, os mercados esperam um corte agora. Então eles vão dar com os burros n'água se não houver um corte."
Os EUA não resolveram sua disputa comercial com a China, mas os dois países concordaram no último final de semana em retomar as negociações, adiando a imposição de novas tarifas.
Ainda há sinais de alguma cautela. Os gastos das empresas com máquinas e outros equipamentos estão fracos, mas os empregadores continuam contratando empregadas domésticas, eletricistas, cuidadores e outros funcionários. Eles também estão pagando mais. Os ganhos médios por hora trabalhada aumentaram a um ritmo de 3,1% ao ano.
O relatório de criação de vagas de maio, que mostrou geração líquida de apenas 72 mil postos de empregos, parece agora mais um evento isolado do que um sinal de deterioração.
Essas não são as condições típicas para um corte de taxa de juros. O desemprego em 3,7% está próximo dos seus níveis mais baixos desde 1969, e os formuladores de política monetária tradicionalmente veem a combinação entre ganhos no mercado de trabalho e baixo desemprego como geradora de riscos inflacionários.
Mas economistas estão menos confiantes em modelos que prevêem uma relação inversa entre desemprego e inflação. O núcleo do índice de preços PCE está em 1,6% ao ano, abaixo da meta de 2% do Fed. Em coletiva de imprensa no mês passado, Powell não fez comentários sobre a fraca inflação ser algo "transitório".
Alguns formuladores de política monetária acreditam que um corte na taxa de juros poderia elevar as expectativas de inflação, reduzindo as chances de cortes drásticos nos juros mais tarde.
Com as Fed funds atualmente entre 2,25% e 2,50%, os membros do Fomc têm menos espaço para reduzir os juros antes de recorrerem a medidas não convencionais. Um corte também pode diminuir o poder de fogo do Fed no caso de uma desaceleração mais severa e sinalizar uma maior preocupação com o futuro.