Por Leandro Manzoni
Investing.com - A crise de bancos nos EUA e na Europa iniciada no fim da semana passada pode ter sido o evento que deve levar ao pivô de juros do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) tão esperado pelos investidores. Uma semana após o mercado projetar um aumento de intensidade na alta de juros de 0,25 ponto percentual (p.p.) para meio ponto por parte do Fed, agora as chances de manutenção da taxa no intervalo de 4,5%-4,75% são as que prevalecem no mercado.
É o que indica o Monitor da Taxa de Juros do Federal Reserve do Investing.com, com a probabilidade de 64,2% de manutenção das taxas para a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) na próxima quarta-feira (22). Já 35,4% apostam em continuidade da alta marginal de 25 pontos-base iniciada na última reunião, com a taxa de juros subindo de 4,5%-4,75% para 4,75%-5%.
Ontem, a probabilidade maior era de uma subida de 0,25 p.p. (78,2%), com 21,8% dos investidores apostando em manutenção. Na semana passada, não havia apostas de taxa de juros inalteradas pelo Fomc, enquanto 81,6% do mercado apostavam em uma alta de meio ponto percentual.
Início do corte de juros nos EUA
De acordo com dados da Bloomberg desta manhã, o mercado está agora precificando um corte de quase 100 pontos-base nos próximos 12 meses.
“O recente relatório de empregos e o último índice de preços ao consumidor vieram fortes, o que coloca ainda mais pressão sobre o objetivo de estabilidade dos preços do Fed, pelo menos em comparação com o cenário vigente na virada do ano”, escreveram os estrategistas em nota aos clientes.
De acordo com a ferramenta do Investing.com, a primeira probabilidade de redução dos juros, em 25 pontos-base, é na reunião de 14 de junho, com 14,6% dos investidores apostando na queda, enquanto a preponderância é de manutenção das atuais taxas, com ao menos 85,4% de chances.
O cálculo do Fed sobre as taxas de juros pode se tornar mais complicado à medida que a economia dos EUA continua lutando contra a alta inflação. Os últimos dados do IPC na terça-feira mostraram que a inflação subiu em fevereiro, mas ficou em linha com as expectativas.
Bancos têm a mesma expectativa de manutenção
O economista-chefe de análise da Moody's, Mark Zandi, acredita que é improvável que o Federal Reserve (Fed) dos EUA aumente as taxas de juros em sua reunião de março, como há uma "carga de incerteza" em torno das recentes falências de bancos.
“Acho que eles estão se concentrando nas falências de bancos que abalaram o sistema bancário e os mercados nos últimos dias”, diz Zandi. “Como resultado, o Fed vai querer ser cauteloso, acrescentou.
Na segunda-feira, o Goldman Sachs (NYSE:GS) disse que não espera que o Fed aumente as taxas este mês. O banco não espera mais um aumento em sua reunião de março, citando "stress no sistema bancário" após o colapso do Silicon Valley Bank.
BofA pensa diferente
Os estrategistas de taxas dos EUA do Bank of America Global Research instaram os clientes da corretora a atenuar os cortes nas taxas que o mercado começou a precificar recentemente.
"O relatório recente das folhas de pagamento e o relatório do CPI de hoje mostram uma força contínua que representa uma ameaça elevada ao objetivo do Fed de estabilidade de preços, pelo menos em comparação com o quadro que se aproxima do ano novo", escreveram os estrategistas em uma nota ao cliente.
O cenário-base do BofA (NYSE:BAC) vê o Fed subindo mais 3 vezes e depois parando.
"Antes das recentes falências bancárias, estávamos preocupados que os aumentos de 50 pb pudessem estar de volta à mesa, dada a força dos dados. O relatório da CPI hoje foi quase um consenso, mas o ex-abrigo de serviços subjacentes não está esfriando tão rapidamente quanto o Fed provavelmente faria. querem ver. Isso os coloca em alerta ainda maior e torna os cortes em junho menos prováveis em nosso cenário básico de risco de contágio reduzido", acrescentaram.
Por outro lado, o Fed pode optar por fazer uma pausa em março. Embora esse cenário seja possível, acrescentam os estrategistas, ainda é improvável que o banco central corte as taxas até junho "dado que 4,58% dos fed funds é relativamente baixo em comparação com seu "ponto" médio de 5,1% e que as evidências até agora sugerem que os níveis atuais não são suficientemente restritivos para controlar a inflação."
"Achamos que os cortes nas taxas teriam pouco valor para lidar com a confiança no setor bancário em relação à segurança dos depósitos", afirmaram ainda em nota.
*Com Laura Sanchez e Senad Karaahmetovic