Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O governo cortou nesta sexta-feira sua projeção para o crescimento da economia este ano a 0,81%, sobre 1,6% anteriormente, chamando atenção para a lentidão da economia em função de choques e com os investimentos em compasso de espera pela reforma da Previdência, conforme nova grade de parâmetros macroeconômicos divulgada pelo Ministério da Economia.
Com isso, a estimativa para o PIB ficou em linha com o número calculado pelo mercado, que vem sendo reduzido semana a semana. No último boletim Focus, feito pelo BC junto a uma centena de economistas, a expectativa era de alta de 0,82% para a atividade neste ano.
No curto prazo, a secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia assinalou ainda que prevê uma elevação de 0,3% no segundo trimestre sobre o trimestre anterior, com ajuste sazonal, num reflexo da frustração das estimativas em relação aos dados mensais efetivamente divulgados.
"A confiança de empresários e consumidores tem se reduzido em relação ao início do ano, dada a demora na retomada. A produção industrial apresentou ritmo próximo de zero em abril e maio, com recuo da indústria extrativa e menor ritmo dos ramos de transformação", disse a SPE, salientando que a tragédia de Brumadinho respondeu, nas suas contas, por cerca de um terço da queda da indústria até o momento.
"Os serviços mostram recuperação lenta devido a dificuldades de empresas e de famílias. Quanto à agropecuária, nota-se alguma recuperação da safra de grãos", acrescentou a pasta, após destacar que a expectativa com a reforma previdenciária postergou investimentos planejados, de forma a reduzir o crescimento da atividade no primeiro semestre.
Para 2020, o governo também diminuiu sua expectativa para o PIB a um crescimento de 2,2%, sobre patamar de 2,6% divulgado no último relatório de receitas e despesas, de maio. Já para 2021 e 2022 a expansão esperada manteve-se em 2,5%.
"A redução do crescimento da atividade em 2020 se deve substancialmente ao efeito base, ou seja, o menor patamar do PIB neste ano afetará o desempenho do PIB em 2020, mesmo crescendo a taxa de 2,5% anualizada em média no próximo ano", disse a SPE.
Em nota, a secretaria ressaltou que seus cálculos não incorporam "por completo" os efeitos da aprovação da reforma da Previdência e de novas medidas que beneficiarão a economia.
O governo também reviu a projeção para a inflação medida pelo IPCA a 3,8% em 2019, sobre 4,1% na estimativa com data-base em 10 de maio, e uma expectativa de 3,8% do mercado, segundo o Focus.
Os números embasarão a confecção do próximo relatório de receitas e despesas, que será publicado até o dia 22.
O secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, já adiantou no início desta semana que, com um PIB mais modesto, as receitas estimadas para o ano devem cair, pressionando o governo a adotar um novo contingenciamento nos gastos para seguir cumprindo a meta de déficit primário de 139 bilhões de reais.
Rodrigues frisou, contudo, que a equipe econômica estava trabalhando com medidas para diminuir essa necessidade, incluindo iniciativas tributárias e associadas a fundos.