Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - A Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia piorou nesta quinta-feira as projeções oficiais para o desempenho da inflação, embora ainda se mantenha mais otimista do que o mercado, e deixou inalteradas as estimativas para a atividade econômica neste ano e em 2023.
Para a inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a estimativa da equipe econômica subiu para 7,90% em 2022, contra 6,55% da projeção feita em março. Para 2023, o patamar subiu de 3,25% para 3,60%.
O centro da meta de inflação é de 3,5% neste ano e 3,25% no próximo, nos dois casos com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.
A projeção do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), que é usado para corrigir o salário mínimo e outras despesas do governo, ficou em 8,10% para este ano, contra 6,70% antes. Em 2023, a estimativa foi de 3,25% para 3,70%.
Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), foi mantida a estimativa do governo de uma alta de 1,5% este ano. Para 2023, a projeção seguiu em 2,5%. A informação sobre a estimativa para o PIB foi antecipada pela Reuters na quarta-feira.
As estimativas fazem parte do boletim usado como base para os cálculos do relatório bimestral de receitas e despesas, a ser divulgado na sexta-feira, que avalia o cumprimento da meta fiscal e do teto de gastos.
No documento distribuído nesta quinta, a SPE afirmou que o mercado vem melhorando projeções para o PIB, impulsionado pela retomada do setor de serviços e ampliação de investimentos. A pasta destacou que analistas também têm previsto situação melhor para a dívida pública.
A secretaria ponderou que riscos externos devem ser monitorados, sobretudo a guerra na Ucrânia e seus impactos nas cadeias globais de valor.
“Nesse contexto adverso, houve uma revisão das taxas de crescimento dos países desenvolvidos e emergentes”, disse.
Agentes de mercado vêm piorando as previsões de inflação, em meio a pressões geradas pela retomada da atividade econômica no país, nova onda de Covid-19 na China e guerra na Ucrânia.
Pesquisa feita pela XP (SA:XPBR31) com investidores institucionais, por exemplo, mostrou na terça-feira que a expectativa para o IPCA está em 8,8% para 2022 e 4,5% em 2023.
O Banco Central suspendeu a divulgação do boletim Focus com as estimativas do mercado por conta da greve de servidores --o último relatório, referente à última semana de abril, trouxe previsão de 7,89% e 4,10% para o IPCA em 2022 e 2023, respectivamente.
Para o PIB de 2022, tem sido observado um movimento de melhora nas avaliações de mercado, com convergência à estimativa do governo. Analistas apontam que a demanda no país foi auxiliada pelo aumento das transferências de renda aos mais pobres por meio do Auxílio Brasil. Além disso, o mercado de trabalho deu sinais de força e a pandemia perdeu intensidade.
Ao mesmo tempo, as expectativas de mercado para 2023 se deterioraram, com a avaliação de que o aperto monetário agressivo conduzido pelo Banco Central para controlar a inflação deve afetar a atividade a partir do segundo semestre deste ano.
A autoridade monetária colocou a taxa básica de juros em 12,75% ao ano em sua última reunião, já sinalizando outro provável aumento para junho, em uma escalada em relação à taxa mínima recorde de 2% vigente em março de 2021.
Goldman Sachs (NYSE:GS) e Credit Suisse (SIX:CSGN) agora veem o PIB brasileiro subindo 1,25% e 1,4% neste ano, respectivamente, contra projeções anteriores de 0,6% e 0,2%. Para 2023, o Goldman Sachs piorou sua previsão de 1,2% para 0,9%, enquanto o Credit Suisse revisou sua estimativa de 2,1% para 0,9%.
O Bank of America (NYSE:BAC) projetou na terça-feira que o Brasil crescerá 1,5% em 2022, ante 0,5% antes. No entanto, a expansão agora é vista em 0,9% em 2023, de 1,8% anteriormente.