Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) -A Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia melhorou nesta quinta-feira a projeção oficial para o desempenho da atividade econômica em 2022, em visão mais otimista do que a observada no mercado, mas passou a ver aceleração da inflação em 2023.
Pela nova previsão, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve crescer 2,0% neste ano, contra 1,5% estimado em maio --informação antecipada pela Reuters na terça-feira. Para 2023, a pasta ainda vê uma atividade mais forte e manteve a perspectiva de crescimento em 2,5%.
Em relação à inflação medida pelo IPCA, a previsão da equipe econômica caiu para 7,2% em 2022, contra 7,9% da projeção feita em maio. No entanto, para 2023, o patamar saltou de 3,6% para 4,5%, próximo ao teto da meta para o ano.
A maior parte das medidas adotadas pelo governo neste ano eleitoral, com cortes de tributos sobre combustíveis e benefícios sociais turbinados, tem validade apenas até dezembro.
Analistas têm avaliado que o pacote tem potencial para reduzir a inflação neste ano, especialmente com a derrubada de preços de combustíveis, mas tende a aumentar preços no ano que vem com a retomada da tributação e os riscos fiscais gerados pelos gastos por fora do teto.
O centro da meta de inflação é de 3,5% neste ano e 3,25% no próximo, nos dois casos com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.
A projeção do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), que é usado para corrigir o salário mínimo e outras despesas do governo, ficou em 7,41% para este ano, contra 8,1% antes. Em 2023, a estimativa foi de 3,7% para 4,86%.
O boletim Focus, que coleta as projeções de analistas para indicadores econômicos, tem mostrado movimento na mesma direção da apresentada pelo governo nesta quarta para a inflação. A projeção do mercado para o IPCA neste ano caiu de 8,50% há um mês para 7,67% no levantamento mais recente, enquanto a de 2023 acelerou de 4,70% para 5,09%.
No documento distribuído nesta quinta, a SPE afirmou que o recuo das estimativas para os preços neste ano incorpora os cortes de tributos sobre combustíveis e o teto de imposto estadual para energia elétrica e comunicação. Para 2023, a pasta elencou fatores que pressionam a inflação.
"Tem a inércia inflacionária, na medida em que os indicadores de inflação têm vindo um pouco mais fortes que o esperado, tem uma desvalorização da taxa de câmbio devido a fatores globais e tem um impacto pequeno do retorno das desonerações que foram feitas para este ano", disse o secretário de Política Econômica, Pedro Calhman.
As previsões apresentadas nesta quinta serão usadas como base para os cálculos do relatório bimestral de receitas e despesas, a ser divulgado na próxima semana, que avalia o cumprimento da meta fiscal e do teto de gastos.
A melhora na projeção para a atividade este ano tem sido feita também pelo mercado. Segundo o Focus mais recente, o PIB brasileiro deve crescer 1,59% neste ano. A estimativa na semana anterior estava em 1,51%, enquanto a do início do ano havia ficado em 0,3%.
“A revisão da atividade econômica se dá, em grande medida, pelo resultado das pesquisas mensais do IBGE já divulgadas”, disse a pasta em nota, citando ganhos na indústria, comércio e serviços. “Outra ênfase que fundamenta a mudança da projeção do PIB neste ano se dá pelas alterações no mercado de trabalho”.
Uma atividade mais aquecida impulsiona a arrecadação tributária. Os recordes registrados até o momento nas receitas federais vêm sendo usados como argumento pela equipe econômica para dar aval aos cortes tributários e ao pacote para turbinar benefícios sociais em ano eleitoral.
(Edição de Camila Moreira)