Por Alonso Soto e Silvio Cascione
BRASÍLIA (Reuters) - O governo federal está considerando reduzir sua meta de inflação de 2017 para mostrar ao mercado seu compromisso de combater a inflação elevada, disse à Reuters uma fonte do governo próxima das negociações nesta segunda-feira.
A fonte, que preferiu não ser identificada porque essa discussão não é pública, não quis dizer se o governo pretende estabelecer uma meta mais baixa do que a atual, de 4,5 por cento, ou reduzir o intervalo de tolerância, que fica entre 2,5 por cento e 6,5 por cento.
Para 2015 e 2016, o governo estabeleceu meta de 4,5 por cento, com margem de tolerância de 2 pontos percentuais para baixo ou para cima.
Uma mudança na meta seria a primeira desde 2004, quando o governo diminuiu o intervalo da meta de 2006 de 2,5 pontos percentuais para 2 pontos.
O Conselho Monetário Nacional (CMN), formado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e o presidente do Banco Central, deve se reunir na quinta-feira para decidir sobre a meta. O Banco Central tem até 30 de junho para estabelecer a meta de 2017, de acordo com a legislação.
"É possível que a meta de 2017 seja revisada", disse a fonte. "A ideia era trabalhar com metas menores no segundo mandato."
A fonte não comentou sobre a possibilidade desta mudança ocorrer na reunião de quinta-feira. Os Ministérios da Fazenda e do Planejamento e o Banco Central não quiseram comentar.
A inflação persistentemente elevada se transformou numa grande dor de cabeça para a presidente Dilma Rousseff, que prometeu fazer tudo para derrubar os preços no segundo mandato iniciado neste ano. A inflação anual subiu para 8,8 por cento no mês até meados de junho.
Em um dos ciclos de aperto mais agressivos do mundo, o BC elevou as taxas de juros em 275 pontos-base desde outubro, apesar do risco de aprofundar o que deve ser uma dolorosa recessão neste ano.
Uma meta menor em 2017 poderia reduzir a pressão sobre o BC para que continue subindo a taxa de juros diante da promessa de baixar a inflação para 4,5 por cento no fim de 2016.
"Se a recepção for favorável (a uma meta menor), o Copom pode, adiante, acenar que, para 2016, 5 por cento está bom", disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves.
O Brasil tem uma das metas de inflação mais elevadas entre as principais economias emergentes. Vizinhos latino-americanos, como Chile e México, têm metas que ficam no intervalo de 2 a 4 por cento.