Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - O segundo trimestre tende a ser marcado por alguma volatilidade nos dados econômicos do país diante dos efeitos da tragédia no Rio Grande do Sul, mas a resiliência a choques que a atividade vem mostrando deve impedir reduções expressivas nas estimativas para o PIB mesmo com a perspectiva de um afrouxamento monetário menor do que o esperado inicialmente.
Analistas destacam três pontos dos dados do Produto Interno Bruto do primeiro trimestre divulgados nesta terça-feira que jogam a favor da atividade: o crescimento de 0,8% nos três primeiros meses do ano mantém a economia com um bom desempenho, a expansão não está concentrada em um setor como aconteceu com a agropecuária em 2023 e o investimento mostrou recuperação.
O impacto das inundações no Rio Grande do Sul deve evitar que as projeções para o PIB sejam revisadas para cima no ano, mas também não devem provocar grandes cortes.
"Mesmo com o cenário global complicado e a economia gaúcha passando por essa tragédia, ainda teremos um crescimento em torno de 2% no ano, o que é muito bom. A economia bem ou mal avança", disse o economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani.
Ele calcula um impacto de 0,3 ponto percentual do desastre climático do Estado no PIB do Brasil neste ano, mas prevê uma recuperação rápida da economia do Rio Grande do Sul devido aos incentivos dados pelo governo.
O investimento também foi um destaque no resultado do PIB do primeiro trimestre, com expansão de 4,1%, embora siga 15,1% abaixo do pico registrado no segundo trimestre de 2013.
"O crescimento dos investimentos mostra que há uma tendência de manter o crescimento. Víamos que o PIB vinha crescendo, mas o investimento era negativo. Agora com o investimento positivo, isso sustenta a economia", disse Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, que também calcula expansão de 2% do PIB este ano.
A política monetária segue no radar uma vez que a perspectiva de cortes adicionais dos juros diminuiu em relação ao que se esperava inicialmente. Analistas ponderam, entretanto, que a Selic também estavam elevada no primeiro trimestre e ainda assim o desempenho econômico foi positivo.
A pesquisa Focus mostra que o mercado vê apenas mais um corte de 0,25 ponto percentual na Selic este ano, na reunião de política monetária deste mês, mas já se fala inclusive em manutenção do atual patamar de 10,50%.
O Banco Central vem ressaltando preocupações com o cenário fiscal, que podem estar afetando as expectativas de inflação.
"Essas preocupações com o fiscal e a desvalorização do real no segundo trimestre tendem a colocar um freio para o crescimento econômico ... via condições de crédito mais apertadas e menor confiança do empresário", destacou Luciano Rostagno, estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos.