Renner tem desempenho afetado por despesas e ação cai após balanço do 2º tri
(Reuters) - O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, disse nesta sexta-feira que o governo não está muito preocupado com o impacto macroeconômico da tarifa de 50% dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, que ele disse ser "contido", mas com o efeito setorial da taxa punitiva imposta pelo presidente norte-americano, Donald Trump.
Falando no Fórum Jota, em São Paulo, em participação on-line, Mello destacou que a taxa de câmbio tem se comportado bem em meio ao impasse comercial entre os dois parceiros. Ele disse que a preocupação do governo é com as empresas e setores mais dependentes de exportações dos EUA, e que as medidas de apoio serão focadas nesses casos.
"O que mais preocupa o Brasil não é o impacto macroeconômico (das tarifas comerciais impostas pelos EUA). Ou seja, o impacto em crescimento, em emprego, em inflação é bastante contido", disse Mello.
"A maior preocupação, certamente, é setorial. Alguns setores específicos, que têm alta dependência do seu faturamento para exportações voltadas ao mercado americano, esses podem ter um impacto maior e nós estamos trabalhando em políticas exatamente para mitigar este impacto setorial", acrescentou.
Mello não detalhou quais medidas devem ser anunciadas pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para socorrer setores afetados pelas tarifas impostas pelos EUA, mas mencionou que o crédito para empresas e setores atingidos será um fator importante do pacote.
O secretário adiantou, ainda, que a ajuda será feita sob medida para cada setor e que o impacto fiscal será o menor possível.
No evento, Mello foi questionado se considera que foi um erro a manutenção da meta de inflação em 3%, e afirmou não considerar um equívoco, mas sim uma escolha de buscar uma meta baixa, tomada também por governos anteriores.
O secretário fez a avaliação de que é importante manter uma inflação baixa de maneira sustentável e por um longo período para facilitar a desindexação da economia. Ele apontou que este debate costuma gerar algum conflito social, pois os diversos setores sempre defendem que o processo desindexatório comece por outro segmento que não o seu, e que uma inflação baixa por mais tempo ajuda nesse processo.
Sobre a política monetária, Mello disse haver sinais de que os impactos dos juros contracionistas estão sendo sentidos na economia antes do que o previsto e disse haver por parte da equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, uma "preocupação legítima" sobre os efeitos da política monetária nos rumos da economia brasileira.
"A pergunta é: qual o impacto dessa taxa de juros e qual o custo-benefício do ponto de vista de atividade, emprego e inflação", disse.
"Existem pessoas dentro do mercado que acreditam que a taxa de juros deve começar a cair já neste ano, tem pessoas que acreditam que só no início do ano que vem, e tudo isso diz respeito a essa ponderação acerca da intensidade e do tempo que vai levar para a política monetária produzir o seu efeito."
Falando no mesmo evento, antes da participação de Mello, o diretor de Política Monetária do BC, Diogo Guillen, reiterou que a taxa de juros Selic, agora em 15%, permanecerá em patamar restritivo por "período bastante prolongado" a fim de trazer a inflação de volta à meta.
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu de forma unânime no mês passado manter a Selic em 15%, mencionando em sua ata que os vetores inflacionários seguem adversos, com pressões no mercado de trabalho, expectativas de inflação desancoradas e projeções de preços elevadas.
(Por Eduardo Simões)