Por Jessica Bahia Melo
Investing.com – Os mercados aguardam a divulgação dos dados de inflação ao consumidor nos Estados Unidos, o que pode indicar os próximos passos para as decisões de política monetária do Federal Reserve. Com um mercado de trabalho resiliente, a tendência é de que os núcleos sigam pressionando, segundo analistas consultados pelo Investing.com Brasil.
As expectativas consensuais são de que o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) apresente uma variação mensal de 0,2% em março, após alta de 0,4% em fevereiro. Se concretizada a projeção, o indicador anual cairia de 6% para 5,2%. No entanto, para o núcleo, os analistas esperam 0,4% em março, abaixo dos 0,5% de fevereiro, mas o que levaria o núcleo em doze meses a subir de 5,5% para 5,6%.
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O Bank of America (NYSE:BAC) projeta alta mensal de 0,35% no indicador cheio em março e a expectativa do bofA é de que os preços de energia apresentem recuo mensal de 0,5%. Para o núcleo da inflação, o banco espera alta de 0,43%, mostrando um processo difícil de desinflação, com rigidez diante de preços elevados em aluguéis, o que tende a ser reduzido na segunda metade do ano.
“É muito importante estar atento ao núcleo da inflação, porque tira o que é mais volátil, preços de commodities, energia, que variam bastante. E ele está demorando muito a ceder”, reforça Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank.
Dentro do núcleo, é possível considerar duas dimensões principais, bens e serviços. Os preços de bens, que eram pressionados após a pandemia, com cadeias de produção afetadas, já começaram a ceder. A preocupação segue com os preços de serviços, na visão da economista. “Preços de aluguéis são uma força importante que contribuiu, além dos serviços em geral, que estão puxados por um mercado de trabalho com salários altos”, destaca a economista, que lembra que os últimos dados do payroll americano indicam taxa de desemprego em março de apenas 3,5% da força de trabalho.
Enzo Pacheco, analista da Empiricus Research, concorda que após inflação inicial concentrada na parte de bens, os dados nesse segmento estariam mais “comportados”, mas o mercado de trabalho segue como ponto de atenção. “A inflação tem sido foco dos investidores desde o início de 2022, quando havia uma pressão de parte de produtos impulsionando os preços, chegando aos maiores níveis em 40 anos, com indicador caindo desde então. Na virada do ano, começamos a ver que os dados de inflação estão muito relacionados aos dados de emprego”.
Como o indicador pode afetar os mercados
Além dos dados do mercado de trabalho de trabalho divulgados na semana passada, a inflação ao consumidor deve trazer mais pistas sobre o futuro da política monetária. Até o momento, os analistas esperam que o Fed tenha que manter os juros elevados por mais tempo para conter as pressões. A razão entre ofertas de emprego e trabalhadores vem diminuindo, mas segue forte.
A maior parte dos analistas estima, hoje, um novo aumento nas fed funds na próxima reunião do Federal Open Market Committee (FOMC), marcada para início de maio. Segundo monitor da taxa de juros do Federal Reserve do Investing.com, as apostas de 72,9% são para uma alta de 0,25 ponto percentual, levando o indicador à faixa de 5-5,25%. “Os banco centrais, e o americano não foge à regra, olham com bastante atenção para esse item de núcleo duro da inflação, que oscila menos”, reforça Celso Pereira, diretor de investimentos da Nomad.
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Caso o dado venha abaixo do esperado pelos mercados, o entendimento dos traders será de que, se a inflação estiver desacelerando, o Fed não precisaria aumentar muito mais os juros em relação aos níveis atuais, o que pode impulsionar altas nas ações. Por outro lado, dados em linha ou acima das projeções podem indicar que novos apertos estão por vir, resultando em resposta negativa, completam os analistas da Empiricus e Nomad.