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“Inflação verde” deve afetar mercado global no pós-pandemia, diz Campos Neto

Publicado 24.08.2021, 19:15
© Reuters.

Por Jessica Bahia Melo

Investing.com – A retomada da economia mundial, após a recessão causada pela pandemia de covid-19, gerou um aumento na inflação em vários países, incluindo o Brasil, que fica no patamar de Índia e Rússia com variações intensas nos preços. Além do aquecimento do mercado, que gerou alta generalizada nos IPCs mundo afora, os países devem enfrentar um processo de “inflação verde”, segundo Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil. Durante o painel “Perspectivas e desafios da economia e da política monetária no Brasil”, realizado durante o evento virtual Expert XP, Campos Neto afirmou que a demanda por materiais utilizados por tecnologias limpas tem aumentado, e a luta contra as mudanças climáticas tem afetado a inflação - influenciando preços de metais e adaptações na produção de diversos itens.

“Para você atingir esse crescimento mais verde, tem uma demanda muito maior em alguns metais. Lembrando que para parte desses metais, a produção não é um processo muito verde, principalmente alumínio. Então vemos com preocupação notícias de fechamentos de minas de cobre, mudanças na forma de fazer alumínio para ser mais sustentável. Isso diminui a produção e aumenta custos”, explica Campos Neto.

Fatores que devem pressionar a inflação

Além do aquecimento da demanda de forma geral com as medidas econômicas viabilizadas pelos países emergentes e também desenvolvidos, um dos pontos que chama atenção de Campos Neto é o mercado imobiliário. “Os Estados Unidos tiveram um aumento de preços de casas muito alto, mas isso não foi acompanhado por alugueis até recentemente. Quando a gente olha a expectativa de preços de alugueis lá na frente, a gente vê que já está prevista uma alta bastante relevante e isso vai se disseminar”, destaca Neto.

No Brasil, a crise hídrica deve continuar a ser uma pressão nos próximos meses. Ainda, os gargalos em setores como o de semicondutores também pioram o cenário. “E aí a gente tem de fato uma espera um pouco maior. Mas se a gente olhar a produção, houve uma queda muito grande em um ou dois meses, mas em grande parte da pandemia, ela só aumentou. Então pode ter tido uma ruptura, mas acho que é mais um tema de demanda. A parte de fretes internacionais, tanto volume quanto custos, todos indicam na mesma direção”, completa.

Apesar dessas condicionantes, Campos Neto acredita que a autoridade monetária brasileira possui os instrumentos necessários para fazer a inflação retornar às metas estabelecidas. “O controle de expectativas de preços é a variável mais fundamental na economia. O BC entende que é muito importante perseguir a meta em um horizonte relevante”, reforça.

Rupturas de oferta?

Para o presidente do BCB, a volta do maior consumo de serviços em detrimento dos bens pode não ser homogênea. No entanto, segundo ele, não houve grandes rupturas de oferta – mesmo em relação aos semicondutores -, mas grandes aumentos na demanda. “Quando a gente olha a produção durante a pandemia desses bens que estão sofrendo alguma escassez, a produção não foi interrompida, mas acelerada, então é um argumento que fica mais frágil”, acredita.

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