Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A inflação oficial brasileira surpreendeu em setembro ao, em 12 meses, atingir o maior nível em quase três anos e se afastar ainda mais do teto da meta do governo, impulsionada pelos preços de alimentos às vésperas da realização do acirrado segundo turno da eleição presidencial.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,57 por cento no mês passado, acumulando em 12 meses 6,75 por cento, maior nível desde outubro de 2011 (6,97 por cento), informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira.
"O conjunto da obra em termos de economia está muito ruim, com inflação alta e baixo crescimento, e certamente isso vira tema para os debates (político)", destacou o economista e sócio da Tendências Consultoria, Juan Jensen.
Em agosto, o indicador havia avançado 0,25 por cento na base mensal, acumulando em 12 meses 6,51 por cento, já acima do teto da meta oficial --4,5 por cento, com margem de 2 pontos percentuais para mais ou menos.
Os números de setembro do IPCA ficaram bem acima das expectativas em pesquisa da Reuters, cujas medianas apontavam alta de 0,47 por cento na comparação mensal e 6,64 por cento em 12 meses.
A inflação tem ficado acima de 6 por cento há meses, mesmo com a política de juros elevados do Banco Central, tornando-se um dos principais problemas para a presidente Dilma Rouseff (PT), que tem pela frente uma disputa bastante apertada com o candidato do PSDB, Aécio Neves, no segundo turno das eleições.
ALIMENTOS
No mês passado, segundo o IBGE, o maior impacto de alta veio do grupo Alimentação e Bebidas, cujo preços subiram 0,78 por cento, respondendo por 0,19 ponto percentual do indicador. Com isso, o grupo deixou para trás três meses de queda nos preços.
Somente o item carnes teve impacto de 0,08 ponto percentual no índice do mês, após alta no preço do quilo de 3,17 por cento, contra avanço de 0,43 por cento em agosto. Os preços da arroba bovina no mercado paulista estão em patamares recordes nos últimos dias devido à escassez de animais por conta do pasto prejudicado pela seca e pela demanda alta.
Também pesaram em setembro a inflação nos grupos Habitação (0,77 por cento) e Transporte (0,63 por cento).
O IBGE informou ainda que os preços administrados, que pressionam a inflação neste ano e devem pesar também em 2015, desaceleraram a alta a 0,40 por cento no mês passado, contra 0,51 por cento em agosto.
Por outro lado, os custos de serviços, outra fonte de pressão, aceleraram a alta a 0,77 por cento em setembro, sobre 0,59 por cento no mês anterior.
Até o final do ano, especialistas acreditam que o IPCA deve perder força, e fechar dentro da meta, sobretudo por conta dos preços de alimentos.
"Até novembro, o IPCA fica acima de 6,5 por cento (em 12 meses) porque alguns itens vão ser reajustados, como a energia elétrica no Rio de Janeiro. Mas em dezembro termina abaixo disso porque a base de comparação do ano passado foi muito alta", disse o economista sênior do Banco de Tokyo-Mitsubishi, Carlos Pedroso, que projeta a inflação ao final deste ano em 6,3 por cento.
(Reportagem adicional de Felipe Pontes, no Rio de Janeiro)