Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - O IPCA-15 desacelerou em maio mas ainda assim surpreendeu com alta acima do esperado e registrou o resultado mais intenso para o mês em seis anos, com a taxa acumulada em 12 meses bem acima de 12% e no maior nível em 18 anos e meio.
Em maio, a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) desacelerou a 0,59%, de 1,73% no mês anterior, de acordo com dados divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Apesar do número mais baixo, a leitura mensal da prévia da inflação brasileira representa a maior variação para um mês de maio desde 2016 (+0,86%) e fica acima da expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 0,45%.
Mesmo com o alívio, o índice passou a acumular em 12 meses inflação de 12,20%, o resultado mais alto desde novembro de 2003, quando chegou a 12,69%. A expectativa para o dado em 12 meses era de alta de 12,03%.
Isso representa quase 2,5 vezes o teto da meta oficial para a inflação este ano, que é de 3,5%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA.
"A inflação está agora não apenas muito elevada como também altamente disseminada, com projeção de que a taxa permanecerá acima de 10% até outubro de 2022 e acima de 8% até março de 2023", avaliou em relatório Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para a América Latina no Goldman Sachs (NYSE:GS).
Reajustes de preços vêm garantindo a persistência das pressões inflacionárias no país, bem como o cenário internacional, com lockdowns na China e sanções contra a Rússia devido à guerra na Ucrânia.
Em maio, o item de maior influência no IPCA-15 foi produtos farmacêuticos, com aumento de 5,24% nos preços após reajuste de até 10,89% autorizado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). Isso levou o grupo Saúde e cuidados pessoais a registrar avanço de 2,19%, a maior alta, de acordo com o IBGE.
Também se destacou a alta de 1,80% do grupo dos Transportes, embora tenha desacelerado em relação à taxa de 3,43% de abril. A maior contribuição para o grupo veio do item passagens aéreas, cujos custos dispararam 18,40%.
Os combustíveis também seguiram em alta, de 2,05% no mês, mas bem abaixo dos 7,54% do mês anterior, com aumentos de 1,24% da gasolina e de 7,79% do etanol.
Mas em maio a entrada em vigor da bandeira tarifária verde para as contas de energia impediu um salto ainda maior do IPCA-15, após seis meses de bandeira "Escassez Hídrica". A energia elétrica registrou queda de 14,09%, levando o grupo Habitação a uma deflação de 3,85% no mês.
Em sua luta para reduzir a inflação, o Banco Central já elevou a taxa básica de juros Selic a 12,75%, e reconheceu que há uma deterioração na dinâmica inflacionária do Brasil, apesar do ciclo "bastante intenso e tempestivo" de ajuste nos juros.
Uma política monetária mais apertada tende a moderar os gastos dos consumidores e, consequentemente, conter a alta dos preços, mas por outro lado restringe a atividade econômica.
"Dado que as pressões da inflação estão para cima, achamos que não vai ter como o Banco Central para de subir juros tão rápido. Continuamos achando que vai ter que subir pelo menos mais duas vezes", com cenário de 14,25% para a Selic terminal em 2022, disse a economista para Brasil do BNP Paribas (EPA:BNPP) Laiz Carvalho.
(Edição de Eduardo Simões e Luana Maria Benedito)