Trump leva luta contra o Fed a nível sem precedentes com tentativa de demitir diretora
Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - O IPCA-15 registrou deflação em agosto pela primeira vez em dois anos graças à incorporação do chamado Bônus de Itaipu nas contas de energia e à queda nos preços dos alimentos, com a taxa em 12 meses indo abaixo de 5% em meio a indicações do Banco Central de manutenção dos juros em patamar elevado.
Em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) teve queda de 0,14%, após avanço de 0,33% no mês anterior, de acordo com os dados divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Esse foi o primeiro resultado negativo desde julho de 2023, quando houve queda de 0,07%, e a deflação mais intensa desde setembro de 2022 (-0,37%).
O resultado levou a taxa em 12 meses a uma alta de 4,95%, de 5,30% em julho. A meta oficial é de 3,0% medido pelo IPCA, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
As expectativas em pesquisa da Reuters eram de queda de 0,19% no mês e alta de 4,91% em 12 meses.
Em agosto, o maior peso sobre o IPCA-15 foi exercido, segundo o IBGE, pela energia elétrica residencial, cujos preços recuaram 4,93%, levando o grupo Habitação a uma queda de 1,13%, após alta de 0,98% em julho.
A queda dos preços da energia no mês deveu-se à incorporação do Bônus de Itaipu, que mais do que compensou o impacto da bandeira tarifária vermelha patamar 2 em vigor para as contas de luz no período, com adicional de R$7,87 para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.
O Bônus de Itaipu é um valor distribuído aos consumidores todo ano após apuração do saldo registrado na conta de comercialização da energia da usina hidrelétrica binacional no ano anterior. Passado esse efeito, os preços da energia seguem no foco da cena inflacionária.
Também registraram quedas em agosto Alimentação e bebidas, de 0,53%; Transportes, de 0,47%; e Comunicação, de 0,17%.
Os alimentos tiveram deflação pelo terceiro mês seguido em agosto, com recuo de 1,02% da alimentação no domicílio. Destaque para as quedas da manga (-20,99%), da batata-inglesa (-18,77%), da cebola (-13,83%), do tomate (-7,71%), do arroz (-3,12%) e das carnes (-0,94%).
Em Transportes, o resultado foi impulsionado pelos recuos nas passagens aéreas (-2,59%), no automóvel novo (-1,32%) e na gasolina (-1,14%). Os combustíveis como um todo registraram deflação de 1,18%, com quedas também em óleo diesel (-0,20%), gás veicular (-0,25%) e etanol (-1,98%).
No final de julho, o Banco Central decidiu interromper o ciclo de alta nos juros básicos ao manter a Selic em 15% ao ano, mas ressaltou que antecipa a manutenção da taxa nesse patamar por período "bastante prolongado".
"Apesar do bom resultado no índice cheio, o qualitativo não foi tão positivo. O núcleo da inflação parece estagnado em 0,3%, registrando tal variação pelo terceiro mês consecutivo, em um patamar que é inconsistente com a meta de 3%. Além disso, tivemos uma retomada na inflação de serviços, que avançou 0,5%", destacou André Valério, economista sênior do Inter.
"Em termos de política monetária, o resultado de hoje não impacta de maneira significativa", completou.
O cenário ainda é marcado por incertezas relacionadas à tarifa de 50% dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. O BC apontou que a política tarifária dos EUA torna o cenário mais adverso para o Brasil, ressaltando que sua atuação focará nos mecanismos de transmissão do ambiente externo sobre a inflação local.
A mais recente pesquisa Focus realizada pelo BC mostra que a expectativa de especialistas é de que a inflação termine este ano a 4,86%, com a Selic a 15%.
O IPCA-15 é uma prévia do índice cheio do mês. Para seu cálculo foram coletados preços no período de 16 de julho a 14 de agosto.