Investing.com – Investidores aguardam a definição da política monetária americana em meio à ampliação da tensão com conflitos internacionais e elevação das Treasuries, que teriam deixado as condições financeiras mais apertadas na economia. O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês para Federal Open Market Committee) anuncia se vai subir ou não a taxa de juros nesta quarta-feira, 01º de novembro. A expectativa consensual é de que as fed funds serão mantidas no patamar atual, na faixa entre 5,25% e 5,50%.
Nesta segunda, 30, essa era a projeção precificada por 98,7% dos analistas, segundo a ferramenta Monitor da Taxa de Juros do Federal Reserve (Fed), do Investing.com.
Mercado aguarda manutenção
A taxa de juros americana foi elevada em julho e mantida em setembro, mas com um comunicado e fala do presidente do Fed, Jerome Powell, indicando que as portas estavam abertas para novas elevações, caso os dados demonstrassem que isso era necessário.
José Maria Silva, coordenador de alocação e inteligência da Avenue, concorda com a visão consensual e lembra que, mesmo que não haja aumento, a política do Fed já é contracionista. “A comunicação do Fed tem sido de que estão na busca daquilo que eles consideram ser uma taxa restritiva, ou seja, algo que já vai impor alguma restrição ao consumo e gerar alguma desaceleração econômica, procurando reduzir a inflação”.
“Então levando em conta os dados de resiliência econômica que a gente tem visto e o fato de que o Produto Interno Bruto (PIB) continuou crescendo, a inflação, apesar de tudo, de seguir uma tendência para baixo, está pressionada por fenômenos como o preço do petróleo mais alto e continua ainda em níveis mais altos do que o desejado. Portanto, certamente vai haver alguns membros que vão dizer que chegou a hora de aumentar a taxa”, completa Silva, ao esperar que a falta de consenso leve à pressão nos mercados, com temores de um novo aumento em dezembro.
Francisco Nobre, economista da XP (BVMF:XPBR31), também espera a manutenção e menciona, da mesma forma, que os juros já estão em patamares extremamente elevados, considerando o histórico da política monetária nos Estados Unidos.
“É muito difícil o Fed surpreender o mercado. Conforme vamos nos aproximando da reunião, os membros vão se comunicando, falando publicamente, e a probabilidade vai se afunilando, no dia da reunião é muito difícil que o Fed faça algo destoante do que o mercado precifica”, reforça o economista da XP.
O comunicado e a coletiva de imprensa devem trazer destaque para algumas mensagens, como a atividade econômica acima do esperado, nível de consumo resiliente, dados de mercado de trabalho bastante aquecidos e inflação desacelerando lentamente, mas ainda acima da meta do BC dos EUA. Assim, a XP espera que o texto deixe as portas abertas e, na conferência, que Powell justifique a pausa citando as Treasusies e reforce que os juros devem ficar mais altos por mais tempo.
“A comunicação oficial do FOMC desde a última reunião tem caminhado na direção de terminar o ciclo de alta de juros, com vários diretores afirmando que o ciclo terminou e que preferem seguir com os juros nos patamares atuais. Powell, no entanto, afirmou que uma alta de juros adicional não pode ser descartada”, aponta Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, na expectativa de um comunicado com tom conservador. “A combinação de economia aquecida e normalização da inflação é consistente com a manutenção da taxa de juros”, adiciona.
Condições financeiras mais apertadas
O economista da XP detalha que, em relação à reunião anterior, em que havia sinalização de que novos aumentos poderiam ser necessários, houve uma mudança na inclinação na curva de juros, o que, segundo ele, representa um aperto adicional das condições financeiras.
“As condições ficaram mais apertadas sem que o tenha sido necessário que um aumento a mais do Fed. Justamente isso que os membros têm sinalizado recentemente. Talvez o mais provável agora é uma pausa para avaliar e jogar essa decisão para a reunião de dezembro, agora ficar parado e ver como a economia reage”, conclui o economista da XP.
Borsoi acredita haver chance razoável de que o FOMC suba os juros na decisão de dezembro, mas somente se houver uma queda do dólar ou um arrefecimento na ponta longa da curva de juros americana. “Estamos em um momento em que o FOMC só subirá a taxas das fed funds se o mercado não estiver realizando o trabalho do Fed. Por enquanto, o Fed parece satisfeito com o aperto das condições financeiras realizado pelo mercado nas últimas semanas”.