Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou nesta quarta-feira que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicará Gabriel Galípolo para substituir Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central a partir de 2025.
O nome precisará passar por sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e ser aprovado pelo plenário da Casa, que terá um esforço concentrado de votações na primeira semana de setembro, em meio às campanhas para as eleições municipais, mas Haddad disse que essa definição não depende do governo.
"Vamos respeitar a institucionalidade do Senado, que tem seu ritmo e afazeres, e saberá julgar o melhor momento de fazer a sabatina", disse Haddad no Palácio do Planalto, ao lado de Galípolo.
O ministro ressaltou que agora o governo começará a trabalhar na decisão dos três nomes que ocuparão os cargos na diretoria do BC que ficarão vagos no início de 2025, com indicações a serem feitas "oportunamente".
Galípolo afirmou que é "uma honra, um prazer e uma responsabilidade imensa" receber a indicação, ressaltando estar muito contente.
Ex-número dois de Haddad na Fazenda, Galípolo atua desde julho de 2023 como diretor de Política Monetária do BC. Com bom trânsito na equipe econômica e no Congresso, além de contar com a confiança de Lula, ele já era visto no mercado e no governo como um nome consolidado para assumir a presidência da autarquia.
Mestre em Economia Política, Galípolo foi sócio-diretor de consultoria especializada em estruturar concessões e Parcerias Público-Privadas, conselheiro da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e presidente do Banco Fator. Ele também é autor de livros em parceria com o economista desenvolvimentista Luiz Gonzaga Belluzzo.
Apesar das críticas feitas por Lula ao nível dos juros no país desde o início do governo, as falas públicas recentes de Galípolo têm sido lidas por analistas de mercado como alinhadas a uma visão mais dura para a condução da política monetária. Ele também tem enfatizado que o presidente da República sempre deu liberdade e autonomia aos diretores da autarquia.
Desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no final de julho, quando a diretoria do BC foi unânime em manter a taxa básica de juros em 10,50% ao ano e incluir em seu cenário uma possível alta da Selic se necessário, Galípolo tem liderado a comunicação do colegiado, reafirmando que a diretoria não hesitará em subir juros se preciso.
Os posicionamentos trouxeram alívio a preços de mercado, reduzindo temores levantados nos últimos meses com a possibilidade de o BC adotar uma postura mais leniente no combate à inflação quando Lula alcançasse a maioria de indicados na diretoria.
Seguindo as regras da autonomia operacional do BC, que prevê mandatos de diretores não coincidentes com o do presidente da República, Lula alcançará no início de 2025 maioria de indicados na cúpula da autarquia, com sete dos nove diretores.
O momento da indicação de Galípolo foi definido após negociações com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Lula chegou a indicar ao senador que anunciaria todos os nomes de uma só vez, o que incluiria as diretorias de Regulação e de Relacionamento, além da diretoria de Política Monetária, segundo uma fonte a par das conversas.
No entanto, de acordo com essa fonte, Pacheco defendeu a Lula que o momento não seria propício para fazer todas as indicações, citando que o período eleitoral reduz a presença de senadores em Brasília, o que poderia prejudicar as negociações.
(Reportagem adicional de André Romanei e Fabrício de Castro)