Uma eventual perda da autonomia do Banco Central será culpa exclusiva do presidente do banco, Roberto Campos Neto. A afirmação foi feita nesta terça, 30, pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva. O dirigente ressaltou, porém, não acreditar que isso venha a acontecer.
De acordo com Josué, foi o próprio presidente do BC que pediu para ser criticado quando foi votar com a camiseta amarela, cor que representava a campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro à reeleição em 2022. "Ele politiza quando aceita ser homenageado (por adversários do governo) estando ainda no cargo de presidente do BC", disse Josué, referindo-se ao jantar oferecido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em homenagem a Campos Neto, no Palácio dos Bandeirantes, no mês passado.
As declarações de Josué, de certa forma, fazem eco ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que desde que assumiu seu terceiro mandato critica reiteradamente a conduta de Campos Neto, questionando sua autonomia à frente do BC. O presidente também ataca com frequência o atual patamar de juros no País, que atribui à insensibilidade de Campos Neto, que na sua avaliação atuaria em favor dos interesses do mercado financeiro.
Josué Gomes é filho do ex-senador José Alencar, que foi vice-presidente nos dois primeiros mandatos de Lula, de 2003 a 2010. A exemplo do que Lula faz agora, Alencar, que morreu em 2011, sempre foi um crítico feroz das altas taxas de juros praticadas no Brasil.
Politização do BC
Ainda, de acordo com o presidente da Fiesp, Roberto Campos Neto politiza a atuação do BC quando vai a eventos no exterior e sinaliza que vai aumentar a taxa de juro, "desmontando" o forward guidance (indicação dos passos futuros da política monetária) de forma intempestiva, sem combinar com os demais diretores do banco, a ponto de surpreender um desses executivos, que estava a seu lado.
Para Josué, Lula também "politiza" as questões relacionadas à política monetária quando faz críticas públicas a Campos Neto. Mas ele disse entender a iniciativa de Lula, já que não tem ao seu lado alguém como seu pai, que quando era vice-presidente assumia o papel de debater o juro no Brasil. "Acho que falta um José Alencar do lado do presidente Lula", disse Josué.
Procurado, o Banco Central não se manifestou sobre as críticas de Josué. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.