Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A produção de bens de consumo duráveis despencou em outubro e levou o setor industrial a abrir o quarto trimestre com perdas generalizadas, sem dar sinais de recuperação em um ambiente de recessão econômica e confiança abalada.
A produção da indústria brasileira recuou 0,7 por cento em outubro na comparação com setembro, a quinta leitura mensal negativa e a mais acentuada desde 2011 (-0,9 por cento).
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ainda informou nesta quinta-feira que, na comparação com o mesmo mês de 2014, a queda foi de 11,2 por cento, pior leitura nessa base de comparação desde abril de 2009 (-14,1 por cento) e resultado mais fraco para o mês na série iniciada em 2002.
No acumulado do ano, as perdas de 7,8 por cento já superam o pior desempenho já visto na indústria, que aconteceu em 2009 com queda de 7,1 por cento.
Os resultados foram piores do que as expectativas em pesquisa da Reuters, de queda mensal de 0,20 por cento e anual de 10,40 por cento na base anual.
O IBGE informou que todos os segmentos apresentaram perdas no mês, sendo a maior de Bens de Consumo Duráveis, de 5,6 por cento, no terceiro resultado negativo seguido.
O segmento de Bens de Capital, uma medida de investimento, apresentou recuo de 1,9 por cento na produção, apagando assim o avanço de 1,3 por cento visto no mês anterior e atingindo queda sobre o ano anterior de 32,6 por cento.
" A queda expressiva de bens de capital tem relação direta com expectativas dos empresários que estão abaladas, assim como a dos consumidores. Toda a turbulência política e econômica tem influência nas expectativas e no investimento", afirmou o economista do IBGE André Macedo.
Entre os ramos pesquisados, 15 dos 24 apresentaram contração em outubro, sendo as principais influências negativas coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,7 por cento), indústrias extrativas (-2,0 por cento), veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,0 por cento) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-9,4 por cento).
O cenário de profunda fraqueza econômica vem impedindo até mesmo retomada com as encomendas de final de ano, diante da fraqueza da demanda dos consumidores por produtos como eletrodomésticos em meio ao aumento do desemprego e inflação alta.
A fragilidade da demanda deve ter continuado a aprofundar a retração da produção industrial em novembro, segundo o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês), que está no menor nível em cerca de seis anos e meio.
Um dos maiores pesos sobre a atividade econômica, a indústria caiu 1,3 por cento no terceiro trimestre sobre o período imediatamente anterior, segundo dados do IBGE, contribuindo para o recuo de 1,7 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) no período.
E a expectativa é de que a retração se prolongue inclusive para 2016. Pesquisa Focus do Banco Central mostra que a projeção de economistas para a produção industrial deste ano é de queda de 7,50 por cento, com retração de 2,30 por cento em 2016.