SÃO PAULO (Reuters) -A produção de veículos no Brasil em janeiro foi a mais baixa para o mês desde 2003, impactada pela crise na oferta de componentes, que já dura meses, e fatores que incluem afastamento de pessoal nas fábricas por conta de infecções pela variante Ômicron da Covid-19.
As vendas foram as mais baixas para um único mês desde maio de 2020, segundo dados divulgados nesta segunda-feira pela associação de montadoras Anfavea.
Além da falta de oferta de veículos no mercado, com os estoques se mantendo em 114,4 mil unidades em concessionárias e fábricas, e da Ômicron, o setor menciona a intensa temporada de chuvas no país que tem afastado clientes de lojas e atrasos nos emplacamentos por conta da entrada de vigor de um novo sistema do Registro Nacional de Veículos em Estoque (Renave).
O total de veículos emplacados em janeiro correspondeu a uma média por dia útil de 6 mil unidades, número que subiu para 7,2 mil nos primeiros dias de fevereiro, afirmou o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, a jornalistas.
"Outros países afetados pela Ômicron tiveram quedas parecidas com a nossa, próximas de 20%", disse o executivo. "O nível de absenteísmo (de trabalhadores) aumentou bastante...isso significa ritmo de produção menor. Imaginamos que talvez para fevereiro isso possa melhorar", afirmou Moraes, indicando nível de ausências de 6% a 7%.
Em janeiro, a produção de veículos do Brasil desabou 31,1% ante dezembro, para 145,4 mil carros, comerciais leves, caminhões e ônibus e as vendas de novos tombaram 38,9%, para 126,5 mil unidades. Frente a janeiro de 2021, a produção teve queda de 27,4% e os emplacamentos recuaram 26,1%.
As exportações de veículos montados, porém, cresceram 6,6% no comparativo anual em janeiro, para 27.638 unidades.
O segmento de caminhões seguiu sendo menos atingido pelos problemas na oferta de componentes, com a produção recuando 23,7% em janeiro sobre dezembro, mas crescendo 7,5% na comparação anual, para 9.463 unidades.
Já a produção da categoria de veículos leves, formada por carros, picapes, utilitários esportivos e vans, teve quedas de 31,7% e 29,2% nas comparações mensal e anual, respectivamente, em janeiro.
ELÉTRICOS
Apesar do alto custo, mais de 150 mil reais, os carros elétricos e híbridos continuaram ganhando espaço em janeiro, segundo os dados da entidade.
Os modelos elétricos registraram vendas de 368 unidades em janeiro e os híbridos 2.190 ante emplacamentos de 140 e 1.181 unidades um ano antes. Já as vendas dos veículos flex recuaram de 138,3 mil para 94,9 mil.
A participação dos modelos elétricos e híbridos no total das vendas de novos em janeiro foi de 2,2% ante 1,8% no total de 2021 e 1% em 2020, segundo os dados da Anfavea.
Questionado se o país poderá ter no horizonte de cinco anos alguma fábrica de modelos híbridos ou elétricos, Moraes citou dados de levantamento da entidade que apontam que em 2035 é possível que a demanda nacional justifique a instalação de pelo menos um linha de produção.
Segundo o levantamento, se o mercado nacional de veículos atingir um volume de 4,1 milhões de unidades, as vendas de elétricos e híbridos obrigatoriamente serão de cerca de 1,3 milhão de unidades, dada a legislação que obriga que pelo menos 30% "tenham algum grau de eletrificação".
"É muito difícil carimbar quando vai acontecer (produção nacional de elétricos e híbridos), mas essas dimensões vão facilitar", disse Moraes. "É inevitável, não vai ser na velocidade da Europa, mas vai acontecer", acrescentou.
Ele citou que programas como o Finame Baixo Carbono, linha de crédito recentemente flexibilizada pelo BNDES, devem estimular a produção local de tecnologias de baixa emissão de poluentes no país, algo que também inclui motores que usam biogás e gás natural.
(Por Alberto Alerigi Jr.; edição de André Romani)