Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A produção industrial do Brasil recuou 0,6 por cento em maio, terceiro mês seguido no vermelho e mais uma vez com fraqueza dos investimentos, um novo sinal de que a economia brasileira continuou patinando.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a produção industrial caiu 3,2 por cento em maio, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira. Os resultados ficaram em linha com a expectativa em pesquisa da Reuters, cujas medianas apontavam queda de 0,55 por cento na base mensal e de 3,20 por cento sobre um ano antes. Em março e em abril, o setor já havia mostrado queda de 0,5 por cento na comparação mensal, segundo o IBGE. O dado de abril foi revisado depois de ter divulgado originalmente recuo de 0,3 por cento.
"Nitidamente a indústria está operando num ritmo bem menor. Mas mais do que a queda em si, destaca-se o perfil dessa perda, que se dá de forma quase que generalizada", disse o economista do IBGE André Macedo.
A indústria convive há tempos com níveis baixos de confiança e a recente queda da produção provocou somente em maio o corte de quase 30 mil trabalhadores no setor. Em junho, já houve sinais de que a situação da indústria não melhorou. O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) caiu a 48,7 no mês passado, ante 48,8 em maio, terceiro mês seguido abaixo da marca de 50 que separa crescimento de contração e o pior resultado desde julho do ano passado. Depois de o mau desempenho da indústria ter exercido um dos principais pesos sobre a economia brasileira no primeiro trimestre, o próprio Banco Central passou a ver contração de 0,4 por cento do setor este ano, com a economia crescendo 1,6 por cento.
Já o mercado vê expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em torno de 1 por cento no ano, e há quem não descarte que a economia brasileira possa entrar em recessão técnica.
INVESTIMENTOS E VEÍCULOS
O principal destaque para o desempenho de maio foi o segmento de Bens de Capital, medida de investimento, com baixa de 2,6 por cento sobre o mês anterior, segundo o IBGE. Também foi a terceira queda seguida, acumulando perdas de 7,5 por cento nesse período. Sobre um ano antes, o recuo foi de 9,7 por cento em maio.
"Certamente o investimento vai ficar paralisado, porque não há perspectivas de melhora nos próximos períodos por causa das incertezas com crescimento econômico, confiança e perda de massa salarial com a inflação alta", destacou o economista para o Brasil da Ático Asset Management, Danilo Delgado.
Já entre os ramos de atividade, o IBGE destacou que 15 dos 24 pesquisados tiveram queda mensal em maio, sendo as principais influências negativas coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-3,8 por cento) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,9 por cento).
No último caso, também foi o terceiro mês de queda, acumulando perda de 10,8 por cento. Para tentar estimular a atividade, nesta semana o governo anunciou a prorrogação até o fim do ano das alíquotas reduzidas de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos e móveis.
Veja abaixo os resultados da produção industrial de maio: Categorias de Uso Mensal Anual Acumulado em 12 meses . Bens de Capital -2,6% -9,7% +4,1%. Bens Intermediários -0,9% -2,8% -0,8% . Bens de Consumo -0,3% -2,2% +1,1% .. Duráveis -3,6% -11,2% -0,4% .. Semiduráveis e Não Duráveis +1,0% +0,8% +1,5% .Indústria Geral -0,6% -3,2% +0,2%
(Reportagem adicional de Felipe Pontes no Rio de Janeiro; Edição de Patrícia Duarte)