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Saldo comercial brasileiro fecha 2019 com pior desempenho em 4 anos, 2020 começa sob pressão

Publicado 02.01.2020, 17:14
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Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - A balança comercial brasileira fechou 2019 com superávit de 46,674 bilhões de dólares, recuo de 20,5% pela média diária sobre 2018, num ano marcado por arrefecimento no comércio global pelas tensões entre Estados Unidos e China, crise na Argentina e menor crescimento doméstico que o inicialmente projetado.

O saldo foi o menor desde 2015, quando houve superávit de 19,5 bilhões de dólares, e a expectativa do governo é de nova redução este ano.

O secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Lucas Ferraz, disse que a estimativa para 2020 só deve ser divulgada em abril. Mas ele ressaltou que, diante da continuidade de incertezas no front externo e da perspectiva de melhoria na economia brasileira, o saldo das trocas comerciais deverá piorar neste ano.

"Crescimento doméstico tenderá a impulsionar importações em proporção maior que exportações, o que tenderá a pressionar o saldo da balança comercial (em 2020)", disse ele, em coletiva de imprensa.

Economistas preveem que o superávit da balança comercial cairá a 39,40 bilhões de dólares em 2020, conforme boletim Focus mais recente. Já o Banco Central calculou um saldo positivo ainda menor, de 32 bilhões de dólares.

No fim de 2019, o governo corrigiu para cima o registro das exportações de setembro a novembro, atribuindo a uma falha humana uma subnotificação de 6,488 bilhões de dólares que ajudou a piorar o resultado da balança comercial brasileira divulgado originalmente.

Mesmo assim, as exportações no ano tiveram uma queda de 7,5% pela média diária sobre 2018, a 224,018 bilhões de dólares.

Já as importações caíram 3,3% na mesma base de comparação, a 177,344 bilhões de dólares.

O governo do presidente Jair Bolsonaro começou 2019 prevendo que as importações subiriam no ano, na esteira de uma retomada econômica com mais vigor, ao passo que as exportações também avançariam, mas em menor ritmo.

Ao longo do ano, contudo, houve frustração no comportamento exibido pela atividade econômica. O Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 0,9% nas contas oficiais do governo, o que representará uma expansão na casa de 1% pelo terceiro ano consecutivo. O mercado vê alta de 1,17% do PIB em 2019, segundo a pesquisa Focus.

Ao mesmo tempo, as exportações brasileiras foram afetadas por um cenário global marcado por tensões comerciais protagonizadas por EUA e China e pela crise vivida pela Argentina.

Além disso, houve queda significativa na compra de soja pelos chineses, movimento que teve como pano de fundo a peste suína africana que varreu os rebanhos de porcos na China, diminuindo a demanda pelos grãos, que são chave na alimentação animal.

Segundo o Ministério da Economia, o aprofundamento da crise na Argentina impactou as exportações de manufaturados brasileiros em 5,2 bilhões de dólares em 2019. Já a crise da febre suína na China reduziu as vendas de soja em 6,7 bilhões de dólares no ano.

Em apresentação, a pasta reconheceu que a Argentina "continuará sendo fator negativo". E acrescentou que um acordo comercial entre EUA e China poderá atingir as importações agrícolas do Brasil no curto prazo, afetando os embarques de soja num momento em que os rebanhos de suínos no gigante asiático ainda não voltaram à normalidade.

"Rebanho suíno chinês em 2019 cerca de metade foi comprometido e isso não se recupera da noite para o dia, provavelmente esse fator vai continuar a agir em 2020", disse o subsecretário de Inteligência e Estatísticas do Comércio Exterior, Herlon Brandão.

Ferraz, por sua vez, frisou que o Brasil, como o resto do mundo, está sendo influenciado negativamente por má conjuntura global.

"Menor dinamismo do comércio internacional veio para ficar, é novo normal", afirmou ele. "Para além das questões geopolíticas, temos um padrão de crescimento da China que não será o mesmo que antes."

Na ponta das importações em 2019, só houve aumento --e de pequena magnitude-- nas compras de bens intermediários, com alta de 0,4% sobre 2018. Em contrapartida, caíram as importações de bens de capital (-12,8%), bens de consumo (-4,5%) e combustíveis e lubrificantes (-7,3%).

Já no detalhamento das exportações, houve diminuição generalizada, puxada pela categoria de manufaturados, com queda de 11,1% em 2019. A retração ocorreu principalmente em plataforma para extração de petróleo, veículos de carga e automóveis de passageiros, informou o ministério.

Enquanto isso, as vendas de semimanufaturados recuaram 8% no ano e a de básicos, 2%. No último grupo, o destaque foi para a exportação de soja em grãos, que sofreu retração de 21,3% em 2019.

Durante a coletiva, Ferraz defendeu que a "métrica" da política comercial brasileira é a corrente de comércio, não o saldo da balança comercial. E afirmou que o objetivo fundamental do governo é aumentar o grau de integração da economia brasileira e, com isso, contribuir para o aumento da produtividade.

Hoje, a corrente de comércio responde por 24% do PIB, patamar considerado baixo. O governo, entretanto, não tem meta definida para elevação desse percentual.

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DEZEMBRO

Em dezembro somente, o superávit foi de 5,599 bilhões de dólares, informou o Ministério da Economia nesta quinta-feira, acima do saldo positivo de 4,352 bilhões de dólares esperado por analistas em pesquisa Reuters.

No último mês do ano, as exportações alcançaram 18,155 bilhões de dólares, enquanto as importações somaram 12,555 bilhões de dólares.

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