Selic: Copom eleva taxa de juros em 0,5 ponto percentual; não sinaliza nova alta

Publicado 07.05.2025, 18:40
© Banco Central

Investing.com - O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou nesta quarta-feira a taxa básica de juros, Selic, em meio ponto percentual, de 14,25% para 14,75%, após dois dias de reunião de política monetária. A decisão foi unânime, em linha com o consenso de mercado e com a sinalização delineada no encontro anterior.

O comunicado divulgado após a decisão não sinaliza uma nova alta da taxa Selic na próxima reunião, em 18 de junho. "Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação", diz o documento. O colegiado informa que a próxima decisão "dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos".

Outra novidade do comunicado é o recuo do balanço de risco de assimétrico de alta da inflação para "riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, estão mais elevados do que o usual". Os três fatores de riscos de alta se mantiveram, entre os quais são:

(i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado;

(ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e

(iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.

Em relação aos riscos de baixa, houve o acréscimo de um fator adicional, de dois para três no total, com a retirada de um dos dois que estava presente no comunicado anterior, adicionando dois novos fatores diferentes. Foi retirado o fator de risco de baixa "um cenário menos inflacionário para economias emergentes decorrente de choques sobre o comércio internacional e sobre as condições financeiras globais". Já os fatores acrescentados foram o (ii) e o (iii) a seguir:

(i) uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada, tendo impactos sobre o cenário de inflação;

(ii) uma desaceleração global mais pronunciada decorrente do choque de comércio e de um cenário de maior incerteza; e

(iii) uma redução nos preços das commodities com efeitos desinflacionários.

O Copom acabou reduzindo a projeção de inflação para 2026, período em que a autoridade monetária observa para determinar a taxa Selic. A estimativa de inflação no horizonte relevante caiu de 3,9% para 3,6%, com a projeção da taxa de câmbio no cenário de referência recuando de R$ 5,80 para R$ 5,70 por dólar.

O principal aspecto do cenário delineado pelo Copom em seu cenário que levou a uma mudança substancial deste comunicado em relação ao documento da reunião foi o cenário externo. Logo no primeiro parágrafo, houve uma mudança na qualificação do cenário externo, de "desafiador" para "adverso". O Copom desenha uma perspectiva incerta em relação aos efeitos da política comercial de aumento de tarifas de importação implementada pela administração do presidente dos EUA, Donald Trump. Vale ressaltar que esta é a primeira reunião do Copom após o anúncio do tarifaço de 2 de abril em Washington, no chamado "Dia da Libertação".

O comunicado descreve a incerteza das tarifas de Trump sobre a atividade econômica global e "o efeito heterôgeneo no cenário inflacionário entre os países". O documentado também faz menção à volatilidade no mercado financeiro decorrentes das tarifas, além de recomendar cautela para países emergentes devido a um "ambiente de maior tensão geopolítica".

Em relação ao cenário, o Copom é mais enfático em relação à "incipiente moderação no crescimento", mesmo reconhecendo que a atividade econômica interna e o mercado de trabalho seguem dinâmicos. Sobre a inflação, foi retirada a expressão "novamente apresentaram elevação nas divulgações mais recentes" sobre a inflação cheia e as medidas subjacentes, mencionando que ambas se mantêm "acima da meta para a inflação". 

O que dizem os analistas sobre a alta da taxa Selic?

A maioria dos analistas opina sobre se a reunião de junho terá uma alta adicional ou não na taxa Selic. "Mercado deveria ir para a probabilidade majoritária de 0 em junho, e debate passa a ser quando corta. Nesse sentido BC sinaliza estratégia de juros elevados por período prolongado", diz Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos. "Há a opcionalidade de 25, mas me parece que o plano de voo é parar. Para dar o 25 cenário precisa piorar", projeta Victal.

"Diante do cenário atual mais desafiador e incerto, com projeções de inflação acima da meta, a GCB Investimentos avalia como provável um último ajuste de 0,25 ponto percentual na reunião de junho, mesmo sem qualquer sinalização explícita por parte do Copom", aponta Lucas Constantino, estrategista-chefe da GCB Investimentos. "A trajetória da taxa Selic continuará sendo determinada pela evolução dos indicadores econômicos e pelas expectativas do mercado, mediante uma postura bastante cautelosa do BC brasileiro, considerando os efeitos defasados do ciclo de aperto monetário", completa Constantino.

"Acredito que, pelo que ele soa aqui, ele encerrou o ciclo", projeta Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. "Mas, ele deixou a porta aberta porque ele não ganhava nada em encerrar o ciclo definitivamente aqui", diz Spiess, que prevê que o debate vai mudar para "quando vai começar os cortes", projetando o primeiro corte provavelmente para a última reunião do ano, em dezembro.

"Deixou a porta aberta para dar + 25 bps na próxima. Mas, aos olhos de hoje, nos parece ligeiramente mais provável para o BC dar zero na próxima", analisa Daniela Lima, economista para Brasil da Kinea. "Dadas as alterações do balanço de risco simétrico e a ausência de sinalização para o futuro, a última alta (em junho) está em cheque)", diz Rafael Cardoso, economista-chefe do Banco Daycoval.

"Eu espero agora que para as próximas reuniões a gente mantenha a taxa de juros inalterada, pelo menos para as próximas duas reuniões. E quem sabe, se os preços começarem a convergir para baixo, a gente consiga, em vez de ir para 15%, voltar pelo menos para 14,25%", afirma Alisson Correia, analista de investimentos e sócio-fundador da Dom Investimentos.

Leia abaixo o comunicado completo:

O ambiente externo mostra-se adverso e particularmente incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente acerca de sua política comercial e de seus efeitos. A política comercial alimenta incertezas sobre a economia global, notadamente acerca da m​agnitude da desaceleração econômica e sobre o efeito heterogêneo no cenário inflacionário entre os países, com repercussões relevantes sobre a condução da política monetária. Além disso, o comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos também têm sido afetados, com fortes reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes em ambiente de maior tensão geopolítica.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho ainda tem apresentado dinamismo, mas observa-se uma incipiente moderação no crescimento. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação.

As expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus permanecem em valores acima da meta, situando-se em 5,5% e 4,5%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o ano de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,6% no cenário de referência (Tabela 1).

Os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, estão mais elevados do que o usual. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada, tendo impactos sobre o cenário de inflação; (ii) uma desaceleração global mais pronunciada decorrente do choque de comércio e de um cenário de maior incerteza; e (iii) uma redução nos preços das commodities com efeitos desinflacionários.

A conjuntura externa, em particular os desenvolvimentos da política comercial norte-americana, e a conjuntura doméstica, em particular a política fiscal, têm impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes. O Comitê segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Tal cenário prescreve uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta.

O Copom decidiu elevar a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 14,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação.

O Comitê se manterá vigilante e a calibragem do aperto monetário apropriado seguirá guiada pelo objetivo de trazer a inflação à meta no horizonte relevante e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Gabriel Muricca Galípolo (presidente), Ailton de Aquino Santos, Diogo Abry Guillen, Gilneu Francisco Astolfi Vivan, Izabela Moreira Correa, Nilton José Schneider David, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.

 

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