Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - O volume de serviços no Brasil cresceu menos do que o esperado em dezembro mas ainda fechou 2023 com ganhos pelo terceiro ano seguido, embora com forte perda de ritmo.
Em dezembro, o setor teve alta de 0,3% no volume em relação ao mês anterior, de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 0,7%.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, houve queda de 2,0% no volume, a mais intensa desde janeiro de 2021 (-5,0%) e contra expectativa de recuo de 1,7%.
Com isso, o setor encerrou 2023 com crescimento acumulado de 2,3% no volume, perdendo força depois de expansões de 10,9% e 8,3% respectivamente em 2021 e 2022, anos de recuperação da pandemia. A última vez que o setor de serviços havia crescido por três anos consecutivos tinha sido no período de 2012 a 2014, de acordo com o IBGE.
“Em 2021 e 2022, houve uma construção de elevada base de comparação, explicada tanto pela retomada do setor após o período de isolamento da pandemia de Covid-19, quanto, sobretudo, por conta dos ganhos extraordinários oriundos dos segmentos de serviços de tecnologia da informação e o do transporte de cargas", explicou Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa.
"Dessa forma, apresentar expansão sobre dois anos que cresceram substancialmente é algo relevante”, completou.
O setor de serviços ainda está 11,7% acima do nível pré-pandemia (fevereiro de 2020) e 1,7% abaixo do ponto mais alto da série histórica, de dezembro de 2022.
Os serviços tiveram em 2023 ano de altos e baixos, sem conseguir apresentar uma tendência clara, e entra em 2024 com desafios para manter a resiliência. A força do mercado de trabalho e a queda da inflação ajudam o setor, mas de outro lado há o encarecimento do crédito sob os impactos defasados da política monetária restritiva.
A taxa básica Selic está atualmente em 11,25%, depois de o Banco Central ter feito cinco cortes de 0,5 ponto percentual desde agosto passado.
"O saldo... é positivo, uma vez que além de se mostrar capaz de seguir crescendo mesmo em meio ao ambiente contracionista no campo monetário, o setor foi um dos responsáveis pelo bom desempenho do mercado de trabalho no decorrer do ano passado, absorvendo volume significativo de mão de obra disponível no mercado", destacou Matheus Pizzani, economista da CM Capital.
PÓS-PANDEMIA
Os dados do IBGE mostram que em 2023 quatro das cinco atividades da pesquisa tiveram taxas positivas, com destaque para os serviços de informação e comunicação, com alta de 3,4%; e de profissionais, administrativos e complementares, com expansão de 3,7%.
“O que colocou o setor de serviços em patamares elevados foram, principalmente, atividades que se fortaleceram no contexto do pós-pandemia. Houve, por exemplo, aumentos consideráveis nos serviços voltados às empresas, notadamente os serviços de TI”, disse Lobo.
Em dezembro, foram três das cinco atividades que apresentaram ganhos, sendo que o crescimento dos serviços prestados às famílias chegou a 3,5% e ultrapassou, pela primeira vez, o patamar pré-pandemia. Essa era a única atividade da pesquisa que ainda não havia ultrapassado esse nível.
Por outro lado, houve recuos em serviços profissionais, administrativos e complementares (-1,7%) e em outros serviços (-1,2%).
"Na nossa avaliação, esse é mais um resultado que mostra uma desaceleração de um setor importante da atividade econômica, de maior peso e com dinâmica tendendo a ser mais inercial. Olhando à frente, nossa perspectiva é que um mercado de trabalho aquecido, a regra de valorização do salário mínimo e a inflação comportada sirvam para contrabalançar essa perda de fôlego", avaliou em nota Igor Cadilhac, economista do PicPay.
O índice de atividades turísticas, por sua vez, cresceu 1,4% em dezembro frente a novembro, acumulando em 2023 expansão de 6,9%. O segmento está 3,6% acima do patamar pré-pandemia, mas 3,7% abaixo do ponto mais alto da série (fevereiro de 2014).