Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O setor público brasileiro registrou superávit primário de 13,445 bilhões de reais em abril, acima do estimado por analistas, mas em resultado que não evitou que o déficit primário como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) em 12 meses registrasse sua pior marca desde o início da série, em dezembro de 2001.
Conforme dados divulgados nesta sexta-feira pelo Banco Central, o superávit primário no mês foi guiado pela contribuição positiva do governo central (10,638 bilhões de reais), governos regionais (2,599 bilhões de reais) e empresas estatais (208 milhões de reais).
Com isso, o resultado total ficou acima do saldo positivo de 10,5 bilhões de reais projetado por analistas para abril, segundo pesquisa Reuters. [BRPSPS=ECI]
Em 12 meses, contudo, o déficit primário do setor público subiu a 0,76 por cento do PIB, resultado mais fraco da série histórica do BC.
"Os resultados ainda se mostram negativos, deficitários, por incorporarem principalmente os desempenhos do ano passado, sobretudo no segundo semestre", afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel.
"À medida que esses resultados forem sendo substituídos pelos desempenhos mais recentes, isso também vai mostrar uma melhora na métrica em 12 meses. Na margem, os desempenhos (deste ano) estão mais alinhados à trajetória da meta", disse.
Nos quatro primeiros meses do ano, a economia de gasto para o pagamento dos juros da dívida pública somou 32,448 bilhões de reais, abaixo dos 42,527 bilhões de reais de igual período de 2014.
O governo busca alcançar a meta de superávit primário de 66,3 bilhões de reais neste ano, ou 1,1 por cento do PIB, em meio a um cenário de enfraquecimento da economia.
Se de um lado a fraqueza econômica vem impactando diretamente a arrecadação, de outro, a economia esperada com parte das medidas do ajuste fiscal anunciadas até agora, incluindo aumento de tributos e revisão de benefícios, não será atingida integralmente após modificações no Congresso terem atenuado as propostas originais da equipe econômica.
Na semana passada, o governo anunciou um corte de despesas no Orçamento de 2015 de 69,9 bilhões de reais, deixando a porta aberta para novas medidas de aperto fiscal casa haja frustração nas estimativas de receita.
NOMINAL
O resultado nominal de abril também ficou positivo em 11,232 bilhões de reais. A linha foi diretamente beneficiada por um menor volume de gastos com juros nominais, que caíram para 2,213 bilhões de reais. Esta queda refletiu um resultado positivo de 31,829 bilhões de reais com as operações de swap cambial, guiado pela valorização do real no período.
Em março, quando a oscilação do câmbio se deu no sentido contrário, as perdas com swap explodiram a 34,512 bilhões de reais.
Também afetada pela dinâmica da moeda, a dívida pública líquida representou 33,8 por cento do Produto Interno Bruto em abril, ante 33,1 por cento de março e contra estimativa anterior do BC de que ficaria em 34 por cento no mês.
A dívida bruta como proporção do PIB, por sua vez, alcançou 61,7 por cento, ante projeção do BC de 61,9 por cento.
(Reportagem adicional de Alonso Soto)