Ibovespa fecha em queda pressionado por Petrobras, mas sobe em semana marcada por resultados corporativos
Um dia depois da divulgação de balanço referente ao segundo trimestre, as ações da Petrobras (BVMF:PETR4) despencaram na Bolsa de Valores nesta sexta-feira, 9, com a avaliação de investidores de que ficou aquém do esperado o valor dos dividendos anunciados pela estatal no período, de R$ 8,66 bilhões. Também pesou nos negócios a decisão da Petrobras de voltar ao setor de distribuição, seis anos após ter saído da área com a venda da BR Distribuidora.
As ações ordinárias (ON) caíram 7,95%, enquanto as preferenciais (PN) recuaram 6,15%. O mau humor contaminou o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, que recuou 0,45%, aos 135,9 mil pontos. Sem a Petrobras, o índice teria subido 0,39%.
Como resultado, só ontem a Petrobras perdeu R$ 32 bilhões em valor de mercado. Foi a maior perda em um só dia desde 15 de maio de 2024, quando os investidores se abalaram com a renúncia do então CEO Jean Paul Prates.
O valor de mercado da estatal caiu de R$ 442,1 bilhões para R$ 410,2 bilhões, o menor nível desde junho deste ano, quando havia perdido o piso de R$ 400 bilhões pela primeira vez após dois anos. Na Bolsa de Nova York (NYSE), os certificados de ações (ADRs) relativos à ação ON recuaram 7,34%, enquanto os equivalentes à PN cederam 6,42%.
Para o analista Rafael Passos, sócio da Ajax Asset, os números da Petrobras vieram abaixo do consenso, com maior volume de despesas de capital (capex, no termo usado pelo mercado) e piora nos indicadores de retorno sobre o capital investido. "Olhando para frente, mesmo com expectativa de maior produção no ano, o capex deverá seguir elevado diante da transição de FPSOs (navios-plataforma) arrendados para próprios."
Retorno à distribuição
Outro ponto que desagradou ao mercado foi a aprovação à volta da atividade nos segmentos de refino, transporte e comercialização de gás liquefeito de petróleo (GLP, gás de cozinha), pelo conselho de administração da estatal, na quinta-feira, 7.
Segundo fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Petrobras prevê primeiramente a expansão na distribuição de GLP, a integração com outros negócios no Brasil e no exterior e a oferta de soluções de baixo carbono aos clientes.
No segundo trimestre, a petroleira obteve lucro líquido de R$ 26,6 bilhões, revertendo prejuízo de R$ 2,6 bilhões no mesmo período do ano passado. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebtida, na sigla em inglês), que mede a capacidade da empresa em gerar caixa, foi de R$ 52,2 bilhões, resultado 5,1% superior ao do segundo trimestre de 2024.
Setor de distribuição tem margens reduzidas, alertam especialistas
Apesar de a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, defender a intenção da empresa de voltar ao setor de distribuição de gás de cozinha, especialistas de mercado desaprovam a iniciativa. Durante teleconferência ontem com analistas, a executiva enfatizou que o atual tamanho da Petrobras se deve à visão de integração e à busca por sinergias, o que explica a decisão de voltar ao setor.
"Somos uma empresa que nasceu integrada do poço ao posto. Diante de um produto que vai ter uma produção crescente, e se for um bom negócio para a companhia com uma atratividade adequada, por que não exercer mais essa sinergia?", questionou.
Magda disse que, com a produção de GLP aumentando, o grande desafio da companhia é colocar os produtos no mercado. "Temos pressão por ampliação de mercado, estamos indo direto aos grandes consumidores de GLP", afirmou.
A executiva afirmou que a Petrobras não pode ter limitação para o avanço do GLP e que deve buscar venda, seja no modelo B2B (de empresa para empresa), seja para o consumidor final.
O diretor de Logística, Comercialização e Mercados da Petrobras, Claudio Schlosser, disse que a empresa busca grandes clientes para o fornecimento de GLP de forma direta, caso de Vale (BVMF:VALE3) e produtores do agronegócio. "Quando se fala em distribuição, é que estamos nos aproximando dos clientes. Estamos muito ligados a oferecer para o agronegócio, ir direto para grandes consumidores."
Desaprovação
Analistas de mercado desaprovaram a iniciativa. "Vemos a medida sob uma ótica negativa", afirmou Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, em nota. "Trata-se de um segmento com margens historicamente mais apertadas, o que tende a reduzir a eficiência da alocação de capital e pressionar o rendimento anualizado do caixa livre."
O Citi afirmou em relatório que o ritmo de despesas de capital (capex, no termo usado pelo mercado) está mais alto do que o previsto, indicando que a Petrobras se aproxima de atingir sua orientação de US$ 18,5 bilhões. "A maior alavancagem chama a atenção para o fato de que, pela primeira vez em muito tempo, a Petrobras ultrapassou US$ 65 bilhões de dívida bruta", afirmam os analistas.
No caso dos combustíveis líquidos, segundo apurou o Estadão/Broadcast, na reunião de anteontem do conselho de administração decidiu-se que era cedo para discutir a volta aos postos de abastecimento, já que até 2029 a Petrobras não pode, por contrato, concorrer com a Vibra (ex-BR Distribuidora). Apesar da mudança de nome, a marca Petrobras foi mantida com a Vibra por dez anos.
A subsidiária foi vendida no governo Bolsonaro, em 2019, por R$ 9,6 bilhões. À época, a BR era a maior distribuidora do País, com quase 8 mil postos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.