Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - As vendas no varejo brasileiro subiram 1 por cento em outubro, terceira alta mensal seguida e com ritmo acima do esperado puxado sobretudo pelos supermercados, mas ainda insuficiente para representar melhor recuperação do setor.
Na comparação com um ano antes, as vendas avançaram 1,8 por cento, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira.
O resultado de outubro na comparação mensal foi o mais forte para o mês desde 2009 (2 por cento) e ficou bem acima da expectativa em pesquisa da Reuters, de avanço de 0,50 por cento, igualando a projeção mais alta. Para a base anual, a expectativa mediana era de alta de 0,95 por cento.
O IBGE informou que o volume de vendas em sete das oito atividades pesquisadas no varejo restrito subiram em outubro na comparação mensal, com destaque para o segmento de Hipermercados e supermercados, que recuperou a perda de 0,2 por cento do mês anterior ao avançar 1,3 por cento em outubro.
Segundo o instituto, o setor foi favorecido pela taxa de desemprego baixa, que em outubro atingiu o menor nível para o mês, bem como pela melhora na renda. Soma-se a isso, segundo o consultor do IBGE Nilo Lopes, os trabalhos temporários criados com a eleição naquele mês.
"A eleição sem dúvida gera uma renda extra, tem mais gente trabalhando... A economia movimenta mais recursos, isso é inegável", destacou ele.
Já o segmento de Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação registrou a maior alta mensal em outubro, de 3,5 por cento, após queda de 1,9 por cento em setembro.
O único resultado mensal negativo foi visto em Livros, jornais, revistas e papelaria, de 0,9 por cento.
O IBGE informou ainda que o volume de vendas no varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, subiu 1,7 por cento em outubro sobre o mês anterior, impulsionado por Veículos e motos, partes e peças, que avançaram 4,3 por cento no período.
MODERAÇÃO
Apesar do terceiro resultado positivo, o cenário para o setor ainda é frágil neste final de ano, com algumas sinalizações que podem pesar sobre o varejo. Em novembro, o Índice de Confiança do Consumidor da Fundação Getulio Vargas (FGV) atingiu o menor nível em seis anos. Além disso, os custos dos empréstimos estão maiores, após a Selic ter sido elevada a 11,75 por cento.
"Avaliamos que as vendas de automóveis deverão voltar a apontar contração nos meses seguintes, como reflexo da menor renda disponível das famílias que assumiram dívidas no passado e do encarecimento do crédito... Essa mesma tendência prejudicará os segmentos que comercializam outros bens de consumo duráveis", escreveu em nota economista-chefe da corretora Concordia, Flávio Combat, que vê expansão de 2 por cento no varejista restrito neste ano, muito aquém do avanço de 4,3 por cento visto em 2013.
O país saiu da recessão técnica no terceiro trimestre com crescimento de apenas 0,1 por cento, e a expectativa de economistas na pesquisa Focus do Banco Central é de expansão neste ano de apenas 0,18 por cento.
"As vendas no varejo estão recuperando parte das vendas lá de trás... É uma tendência (que existia antes) de moderação", disse o economista sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano.
(Reportagem adicional de Felipe Pontes, no Rio de Janeiro)