Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - As vendas no varejo brasileiro aumentaram pelo segundo mês seguido em fevereiro, e bem mais do que o esperado, dando seguimento à recuperação apesar da inflação elevada no país graças ao impulso de promoções.
Em fevereiro, as vendas varejistas subiram 1,1% em relação a janeiro, informou nesta quarta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O dado ficou bem acima da expectativa em pesquisa da Reuters de ganho de 0,1%, e segue-se a uma alta de 2,1% em janeiro, leitura fortemente revisada para cima após taxa de 0,8% informada inicialmente.
Com isso, o setor está 1,2% acima do patamar pré-pandemia, e 4,9% abaixo do pico da série, de outubro de 2020.
“É um crescimento sobre um nível baixo. Novembro e dezembro de 2021 não foram tão bons como em anos anteriores e as empresas resolveram fazer promoções nesse começo de ano. São novas estratégias para estimular as vendas", explicou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, houve crescimento de 1,3%, ante uma previsão de perda de 1,1%.
Os resultados positivos do varejo se dão apesar da inflação elevada no país, que corrói a confiança e a renda do consumidor, e do desemprego ainda alto. Analistas alertam, no entanto, para riscos à frente.
"De toda forma, a alta da inflação e o aperto das condições monetárias e financeiras deverão impactar o setor e reverter a dinâmica atual para o restante do ano", avaliou Felipe Sichel, sócio e economista-chefe do Modal.
O desempenho do varejo soma-se ao crescimento de 0,7% da indústria em fevereiro depois de tropeço no início do ano. Por outro lado, o volume de serviços sofreu com a inflação e teve queda inesperada de 0,2% no mês.
LIVROS E VESTUÁRIO
Entre as oito atividades pesquisadas, seis apresentaram crescimento das vendas em fevereiro. A maior taxa foi de livros, jornais, revistas e papelaria, com alta de 42,8%, devido, segundo o IBGE, à retomada do mercado de livros didáticos depois de esse mercado ter sido afetado pelo ensino online e migração do material impresso para o meio digital.
Os maiores impactos, no entanto vieram de combustíveis e lubrificantes (5,3%), móveis e eletrodomésticos (2,3%), tecidos, vestuário e calçados (2,1%), de acordo com o instituto.
"As promoções tiveram um peso relevante e significativo para o comércio nesse começo de ano. Os setores como móveis, tecidos, vestuário, produtos de uso doméstico tiveram esse tipo de estratégia de preços promocionais", disse Santos.
Também tiveram alta em fevereiro outros artigos de uso pessoal e doméstico (1,6%) e hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,4%).
Por outro lado, recuaram as vendas de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-5,6%) depois de três altas seguidas, enquanto o setor de equipamentos e material para escritório informática e comunicação ficou estável.
O comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, apresentou ganho de 2,0% no volume de vendas, com a alta 5,2% dos veículos compensando a queda de 0,4% de material de construção.