Chema Ortiz.
Teerã, 27 fev (EFE).- Perante a ameaça de abstenção, os ultraconservadores iranianos, com o líder supremo, Ali Khamenei, na liderança, tentam promover a participação nas eleições legislativas da próxima sexta-feira, que passam despercebidas para a população pelo conflito nuclear e pelos problemas econômicos.
Os sinais de guerra, após as ameaças enviadas dos Estados Unidos e de Israel de um possível ataque ao Irã para paralisar seu programa nuclear, que suspeitam de ter fins militares, desviou o interesse dos iranianos.
Os problemas econômicos derivados das sanções impostas pelos EUA e pela União Europeia ao Irã, materializados em uma forte alta de preços, sobretudo de produtos importados, são a preocupação mais forte da população, especialmente nas vésperas do Ano Novo iraniano, comemorado dia 20 de março, um período de fortes despesas familiares.
As sanções também incidiram na mudança de moeda, o que preocupa comerciantes e importadores, que presenciaram um grande encarecimento e escassez no mercado livre das divisas fortes, como o dólar e o euro, para suas transações.
Enquanto isso, a campanha passa quase despercebida, sem propaganda nas ruas e nem sequer a imprensa oferece informação eleitoral, salvo algumas breves notas sobre o número de candidatos, 3.444 para 290 cadeiras, e eleitores registrados, que são mais de 48 milhões maiores de 16 anos.
Os partidários de Khamenei, os mais radicais e agressivos do regime teocrático com o Ocidente, esperam dominar o Parlamento, de 290 cadeiras, após excluir como candidatos a maioria dos reformistas e também muitos seguidores do presidente, Mahmoud Ahmadinejad.
No entanto, em províncias e no meio rural, a pré-campanha de Ahmadinejad e seus partidários foi muito intensa, com grande presença do presidente e altos cargos governamentais nos últimos meses, o que pode causar surpresas no resultado eleitoral.
No meio desta luta, a pouca publicidade e aparente superioridade dos partidários de Khamenei podem levar a abstenção de grande parte dos eleitores, o que fez com que Khamenei e seus seguidores recorressem ao medo do inimigo exterior para convencer os cidadãos que participem como mostra da unidade dos iranianos.
Há poucas semanas, Khamenei disse que o Irã deve "dar outro duro golpe aos inimigos (exteriores) com sua participação em massa e entusiasta nas novas eleições parlamentares" realizadas desde a implantação da República Islâmica, em 1979.
Na linha do líder supremo, o ministro iraniano de Inteligência, Heydar Moslehi, advertiu recentemente sobre complôs para criar "tensão durante as próximas eleições parlamentares" e pediu "uma participação em massa para derrotar os inimigos e reforçar a unidade e a convergência na nação".
Diplomatas credenciados em Teerã disseram à Agência Efe que o temor dos aliados de Khamenei, que criticam o desinteresse dos reformistas nas eleições enquanto atacam o entorno de Ahmadinejad, que acusam de pôr em dúvida a primazia religiosa no regime, é que uma abstenção em massa deslegitime seu previsível triunfo.
Por enquanto, o Movimento Verde, organizado após as denúncias de fraude nas eleições presidenciais de 2009, que Ahmadinejad ganhou oficialmente, promove o boicote às eleições, enquanto seus líderes, Mehdi Karrubi e Mir Hossein Mousavi, estão há mais de um ano em rígida prisão domiciliar, praticamente incomunicáveis.
Outros reformistas, como o ex-presidente Mohamad Khatami, deixado de fora da política, não promoveram o boicote, e consideraram que não há circunstâncias para se apresentarem.
Dezenas de pessoas próximas a Ahmadinejad acabaram processadas ou presas, o que faz com que estas eleições tenham se transformado nas mais restritas nos 33 anos da República Islâmica.
Pela primeira vez, é necessário um mestrado universitário para aspirar a uma cadeira, mas os deputados que passaram uma legislatura completa de quatro anos no Parlamento podem concorrer.
Isto facilita a presença de deputados veteranos, com uma demonstrada lealdade a Khamenei, e dificulta o acesso ao legislativo de novos políticos, especialmente os populares.
O parlamentar e sindicalista Ali Reza Mahyub disse que, com esta medida, apenas 1% dos iranianos podem se apresentar às eleições, que considerou discriminatórias por motivos econômicos. EFE