Investing.com - O provável aumento das taxas de juros dos Estados Unidos em dezembro não deverá retirar a atratividade da bolsa brasileira para o capital estrangeiro. A avaliação é do analista-chefe de política macroeconômica do banco dinamarquês de investimento Saxo Bank, Christopher Dembik.
Para o analista, os investidores seguirão na busca por maior rentabilidade especialmente em uma época de juros baixos – até mesmo negativos – nos principais mercados internacionais. A alta de juros aguardada após a reunião do Federal Reserve de dezembro já estaria precificada pelo mercado e não deverá provocar pânico nos países emergentes, apesar da consequente valorização do dólar.
A decisão de investimento em países emergentes, de acordo com Dembik, está neste momento mais relacionada aos problemas internos de cada mercado. A Turquia, por exemplo, deverá enfrentar mais dificuldades em atrair a confiança dos investidores após a tentativa de golpe de 15 de julho seguida de forte reação do governo. Com a perda de valor nas últimas semanas, a lira turca alcançou a mesma cotação dos dias seguintes à tentativa de golpe.
O Brasil, por outro lado, tem agradado aos investidores com as medidas de austeridade apresentadas pelo governo Michel Temer. A formação de uma equipe econômica com maior confiança do mercado, mais transparência em relação às contas públicas, a PEC para limitar os gastos e a intenção de votar a reforma da Previdência trouxeram maior conforto para a entrada de capital estrangeiro.
Desde o pico do dólar a R$ 4,17 em meio à tensa crise política que culminou no impeachment de Dilma Rousseff, o real já recuperou 25% do seu valor e fechou ontem (26/10) na casa dos R$ 3,15. O Ibovespa fechou ontem próximo aos 64.000 pontos, acumula uma valorização de mais de 60% em relação ao ponto mínimo de 39.046 pontos do fim de janeiro.
A confiança dos investidores também pode ser medida com a valorização das companhias controladas pelo governo com ações na bolsa. A Petrobras (SA:PETR4) supera os R$ 18, com ganhos de 350% frente à mínima de R$ 4,12 no último dia de janeiro. A Eletrobras (SA:ELET6) já subiu mais de 200% frente à mínima do ano e o Banco do Brasil (SA:BBAS3) valorizou mais de 100%. Os rendimentos dos títulos brasileiros de 10 anos estão se aproximando do menor valor desde outubro de 2015 com 11,3% ao ano, contra 16,76% a.a. em seu ponto máximo.
Juros mais altos em dezembro
A expectativa do mercado aponta para uma 73,9% de chances de um aumento das taxas de juros nos EUA na reunião de política monetária do Fed, marcada para os dias 13 e 14 de dezembro, segundo a ferramenta Fed Rate Watch do Investing.com. Há uma semana, esse percentual estava em 69,2%, o que sinaliza que cada vez mais analistas estão apostando nesta direção.
Na avaliação do mercado, os bons dados recentes da economia norte-americana e as falas dos diretores do Fed têm indicado que o banco está pronto para iniciar um ciclo de alta de juros. Os analistas apostam em até três altas em 2017, o que levaria a taxa para cerca de 1,50%, contra o intervalo de 0,25% - 0,50% atuais.
Na próxima semana, os 12 diretores do Fed se encontram para discutir a política monetária do país, mas os traders não acreditam em uma alta de juros seis dias antes das eleições dos EUA, que poderão provocar grande revisão no cenário econômico do país caso Donald Trump se eleja. Apenas 8,3% dos investidores apostam em uma elevação.
A última vez que o Fed aumentou os juros foi em 16 de dezembro do ano passado. Foi a primeira alteração nas taxas desde o final de 2008, quando o banco elevou em 0,25 p.p.do intervalo de 0%-0,25% praticados desde a crise mundial. Na ocasião eram previstas quatro novas subidas neste ano. Desde então, os diretores do Fed têm adiado a decisão em meio às incertezas como a redução do crescimento da China e da saída do Reino Unido da União Europeia.