LUANDA/BRASILIA (Reuters) - Angola fez um pagamento de dívida de última hora ao Brasil esta semana para evitar um calote, mas funcionários em Brasília agora esperam que Luanda tente renegociar o empréstimo, vinculado a uma usina hidrelétrica gigante no país.
Angola atrasou um pagamento da dívida soberana de 54 milhões de dólares devido ao Brasil em 16 de outubro, disseram duas fontes diretamente familiarizadas com o assunto.
Um pagamento de 120 milhões de dólares para cobrir este mês e o anterior foi, no entanto, feito nesta semana e um funcionário do governo brasileiro confirmou que o dinheiro havia sido recebido na sexta-feira.
Se o pagamento não chegasse até 15 de novembro, o Brasil seria obrigado a informar o Clube de Paris, do qual fazem parte os principais países credores, que Angola estava em situação de inadimplência.
Um porta-voz do ministério das Finanças de Angola culpou "questões administrativas" pelo atraso no pagamento, adicionando que as medidas já foram tomadas para garantir que não acontecesse novamente.
O pagamento está vinculado a empréstimos que totalizam cerca de 4,1 bilhões de dólares, contratado pelo BNDES para dezenas de projetos de infraestrutura em Angola, nos quais empresas brasileiras estavam envolvidas.
A maior delas foi a barragem hidrelétrica de Lauca, na província angolana de Malanje, construída pela construtora Odebrecht. A barragem foi inaugurada pelo ex-presidente José Eduardo dos Santos em agosto.
Mas depois que a Odebrecht e outras construtoras foram envolvidas no maior escândalo de corrupção do país, o BNDES congelou muitos empréstimos pendentes, incluindo um segundo empréstimo para a Lauca totalizando 500 milhões de dólares.
Uma autoridade em Brasília disse que o Brasil espera que Angola busque renegociar os termos do empréstimo para refletir o fato de que a segunda parte do empréstimo não havia sido feita.
Embora um boom do petróleo na última década tenha tornado Angola um dos países mais ricos per capita na África, uma queda no preço da commodity levou a economia à recessão no ano passado e o desemprego é de pelo menos 25 por cento.
A falta de moeda estrangeira forçou empresas, como aéreas e de serviços de petróleo, a suspender operações. Um dólar vale três vezes a taxa oficial no mercado negro.
João Lourenço assumiu como novo presidente angolano em setembro, após 38 anos de governo de José Eduardo dos Santos, e prometeu uma reforma generalizada para recuperar a economia.
(Por Stephen Eisenhammer e Anthony Boadle; reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier e Aluísio Alves)