Ataque de Trump à África do Sul expõe divisões sobre raça e propriedade de terra

Publicado 03.02.2025, 12:46
Atualizado 03.02.2025, 12:50
© Reuters. Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosan21/05/2025nREUTERS/Yves Herman

Por Bhargav Acharya e Alexander Winning

JOHANESBURGO (Reuters) - O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, defendeu nesta segunda-feira sua política de reforma agrária contra um ataque do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que expôs as profundas divisões dentro da África do Sul sobre as disparidades raciais na propriedade de terras, uma questão que se arrasta desde o apartheid.

Trump disse no domingo, sem citar evidências, que "a África do Sul está confiscando terras" e que "certas classes de pessoas" estavam sendo tratadas "muito mal", acrescentando que, em resposta, cortaria o financiamento dos EUA ao país.

Ramaphosa disse que o governo sul-africano não havia confiscado nenhuma terra e que estava ansioso para conversar com Trump para promover um melhor entendimento sobre uma política que, segundo ele, garante o acesso público equitativo à terra.

O ataque de Trump foi repetido por seu apoiador Elon Musk, um bilionário nascido na África do Sul que disse em uma publicação no X que o país tinha "leis de propriedade abertamente racistas", sugerindo que os brancos eram as vítimas.

Proprietários de terras brancos possuem três quartos das terras agrícolas da África do Sul, em comparação com 4% dos proprietários de terras negros. Os negros representam cerca de 80% da população total da África do Sul, enquanto os brancos são cerca de 8%.

No mês passado, Ramaphosa sancionou um projeto de lei com o objetivo de resolver essa disparidade, tornando mais fácil para o Estado expropriar terras no interesse público.

Seu partido, o Congresso Nacional Africano (CNA), maior legenda do governo de coalizão, acusou Trump de ampliar a desinformação propagada pelo AfriForum, um grupo de lobby de direita que promove o que considera ser os interesses dos falantes brancos de africâner.

O CNA disse que o ataque de Trump foi "um resultado direto dos esforços contínuos do grupo de lobby para enganar a comunidade global e proteger a propriedade de terras da era do apartheid".

O presidente-executivo do AfriForum, Kallie Kriel, disse que seu grupo pediria ao governo dos EUA que "punisse diretamente os líderes seniores do CNA, e não o povo da África do Sul" em relação à reforma agrária. Um porta-voz confirmou que o grupo fez lobby nos Estados Unidos.

 

PREOCUPAÇÕES COM ACORDO COMERCIAL

A Aliança Democrática, liderada em sua maioria por brancos, o segundo maior partido do governo de coalizão, disse que queria que a lei de reforma agrária fosse emendada para resolver certas falhas, mas, ainda assim, corrigiu Trump quanto a detalhes.

"Não é verdade que a lei permite que a terra seja confiscada pelo Estado arbitrariamente, ela exige uma compensação justa para expropriações legítimas", disse a legenda.

O ministro da mineração, Gwede Mantashe, do CNA, disse que os países africanos deveriam "reter minerais" dos Estados Unidos em resposta a qualquer corte de ajuda. O porta-voz de Ramaphosa, Vincent Magwenya, disse à Reuters que essas palavras deveriam ser "levadas na brincadeira" e que o governo não estava defendendo seriamente essa política.

Os EUA comprometeram-se a dar assistência à África do Sul no valor de 440 milhões de dólares em 2023, dos quais 315 milhões de dólares seriam destinados a campanhas relacionadas ao HIV/Aids. Ramaphosa disse que o financiamento dos EUA foi responsável por 17% do programa de HIV/Aids da África do Sul, mas não foi significativo em outras áreas.

As relações bilaterais já estavam tensas por causa das relações próximas da África do Sul com a China e a Rússia e pela ação judicial sul-africana contra Israel, um firme aliado dos EUA, que Pretória acusa de genocídio.

O rand, as ações e os títulos do governo da África do Sul caíram após os comentários de Trump, e os economistas disseram que quaisquer medidas dos EUA contra o país poderiam prejudicar a economia em um momento em que o acordo comercial entre os EUA e a África deve ser renovado e Ramaphosa tem lutado para impulsionar o crescimento e atrair investidores.

(Reportagem adicional de Tannur Anders e Sfundo Parakozov, em Johanesburgo; Thando Hlophe, em Pretória; Wendell Roelf e Nqobile Dludla, na Cidade do Cabo; e Libby George, em Londres)

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