BRASÍLIA (Reuters) - O diretor de Fiscalização do Banco Central, Paulo Souza, afirmou nesta terça-feira que os ativos problemáticos de grandes empresas que fazem parte da carteira de crédito das instituições financeiras merecem atenção do BC neste ano, mas que a piora vista nesse sentido em 2017 pode ter decorrido do fato de o estoque de crédito nesse segmento não ter crescido.
Com isso, argumentou ele, os ativos problemáticos passaram a ter maior representatividade. Em coletiva de imprensa, ele também chamou atenção para o fato de os créditos às grandes empresas serem geralmente mais longos, o que faz com que permaneçam um bom tempo na carteira dos bancos.
Em seu Relatório de Estabilidade Financeira publicado nesta manhã, o BC indicou que a carteira de ativos problemáticos das grandes firmas subiu para 7,2 por cento em dezembro de 2017, sobre 4,9 por cento um ano antes. E apontou que essa deterioração se deu principalmente no setor de construção, madeira e móveis e no setor de transportes.
No ano passado, os ativos problemáticos subiram a 22,32 por cento da carteira ativa no setor de construção, madeira e móveis, contra 16,79 por cento em dezembro de 2016. No setor de transportes, o aumento foi de 11,23 para 15,25 por cento.
O BC avaliou no documento que o cenário mais positivo na economia já tem reflexo claro para as empresas de pequeno e médio porte, o que ainda não aconteceu para as grandes corporações.
A autoridade monetária destacou uma série de razões para tanto: "o estoque de operações de empresas em dificuldade financeira é significativo; a geração operacional de caixa dá sinais de melhora, mas ainda em níveis baixos; a pré-inadimplência se mantém em patamar elevado; e não se visualiza uma estabilização no estoque de ativos problemáticos."
Em coletiva de imprensa, o diretor de Fiscalização foi um pouco mais otimista.
"O fator positivo que a gente tem em relação a isso é... que o ingresso de novas recuperações judiciais reduziu bastante, situações não estão se agravando, e você já começa a perceber claramente melhora na geração de caixa para pagarem suas dívidas", disse ele.
No relatório, o BC também apontou que o maior motivo de preocupação do sistema financeiro brasileiro passou a ser o cenário político e o risco fiscal, no lugar de recessão e inadimplência.
Mas ressaltou que o risco de liquidez continua sendo baixo e que os testes de estresse de capital mostraram "aumento da resiliência do sistema bancário" em todos os cenários simulados.
(Por Marcela Ayres)