RIO DE JANEIRO (Reuters) - Um pedido extraordinário da União para que o BNDES devolva 30 bilhões de reais surpreendeu o banco de fomento, que teme que o pagamento comprometa o fôlego de financiamento no momento em que a economia do país dá sinais retomada gradual, disse à Reuters uma fonte familiarizada com o banco.
Representantes do BNDES e da área econômica negociaram recentemente a devolução de 80 bilhões de reais em 2018 oriundos de repasses de 500 bilhões de reais do Tesouro ao banco nos últimos anos. No ano passado, o BNDES devolveu 100 bilhões. O governo chegou a pedir outros 100 bilhões em 2018, mas o valor foi reduzido para cerca de 80 bilhões.
Agora, o governo estaria querendo um retorno adicional de 30 bilhões de reais, segundo a fonte.
"A decisão final ainda não saiu, mas há uma demanda de 30 bilhões para esse ano e mais o volume do ano que vem. O BNDES foi pego de surpresa porque só se falava do ano que vem. Cento e dez a 130 bilhões é um volume muito expressivo", disse a fonte.
"As conversas precisam ser feitas com calma para não colocar em risco o fluxo de caixa do banco. O fôlego que o BNDES tem é de uns 80 bilhões somados os dois anos", adicionou a fonte.
O dinheiro da devolução do BNDES seria usado para quitar principalmente despesas com a Previdência Social. O governo tem encontrado obstáculos para avançar com a reforma no Congresso.
A previsão de uma nova denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer nos próximos dias complica ainda mais as discussões sobre a reforma.
Uma regra impede que o Tesouro faça novas emissões de títulos para bancar despesas de custeio como a previdência. Uma das hipóteses seria a devolução de recursos pelo BNDES.
O BNDES tem resistido ao pedido da União por devolução de valores maiores por entender que, com a retomada da economia, a procura por crédito vai aquecer. A falta de recursos disponíveis para atender a demanda poderia comprometer o ritmo da retomada.
Paralelamente, o banco tenta levantar recursos no mercado para repasse de crédito, incluindo uma captação de um bilhão de dólares em 2018 e outra de 5 bilhões de dólares também no ano que vem, caso a primeira operação seja bem sucedida.
(Por Rodrigo Viga Gaier)