BRASÍLIA (Reuters) - É muito difícil que o governo brasileiro abra mão do acordo de Paris, afirmou nesta quarta-feira o presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), que representa bancos de fomento no país, reforçando que negócios dependem disso e que essa realidade deverá se impor sobre promessas feitas nas eleições presidenciais.
"Entre o discurso de campanha e execução de governo tem uma diferença enorme, as bravatas ficam para a campanha e na hora do discurso, de gerir um país, a coisa é mais importante", afirmou Marco Aurélio Crocco.
No início de setembro, o candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, disse que, se eleito, pode retirar o Brasil do Acordo de Paris de combate às mudanças climáticas uma vez que, segundo o presidenciável, as premissas previstas afetam a soberania nacional.
Bolsonaro, que em diversas áreas tem um discurso semelhante ao do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que retirou os EUA do pacto global do clima, afirmou que é desfavorável ao acordo porque o Brasil teria que “pagar um preço caro” para atender às exigências.
"Alguns candidatos vão ter que entender que se vive num mundo. E mundo é igual condomínio: você não faz o que quer, tem que respeitar as regras do condomínio. Eles vão aprender isso e vão ver que tem acordos de comércio, acordos de empréstimos, acordos financeiros que dependem dessas questões", disse Crocco.
Nesta quarta-feira, a ABDE, que reúne o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outros bancos e agências de fomento regionais, fechou um acordo com o governo do Reino Unido, que destinará até 25 mil libras para a entidade até março do ano que vem para que capacite instituições associadas a realizar captação de recursos de finanças verdes.
Crocco, que também comanda o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), defendeu que é impossível o país se desvencilhar dessa pauta, que é compartilhada globalmente.
"Nós levantamos recursos no exterior e se a gente bater hoje em qualquer agência de fomento, organismo multilateral, onde vai ter recurso é recurso pra fazer finanças verdes", afirmou.
"Só tem recurso pra isso porque o mundo está fazendo isso."
O embaixador britânico no Brasil, Vijay Rangarajan, também destacou que, nesse sentido, o fluxo de recursos é direcionado para investimentos concretos.
"Não é um tipo de ajuda", afirmou Rangarajan sobre o financiamento a projetos inseridos no âmbito de uma agenda sustentável e alinhada à governança ambiental e social.
(Por Marcela Ayres)