SÃO PAULO (Reuters) - Os distribuidores de veículos esperam que 2017 marcará uma interrupção na queda de vendas que vem sendo registrada pelo setor desde 2013 e divulgaram nesta quarta-feira expectativa de crescimento de 2,3 por cento nos licenciamentos de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus novos neste ano.
A previsão é baseada na esperada volta ao crescimento da economia e na esperança de que o ciclo de corte na taxa de juros derrubará a Selic para mais perto de 10 por cento até o final do ano ante o nível atual de 13,75 por cento.
As vendas de veículos acumulam queda de cerca de 50 por cento ante o pico de quase 4 milhões de unidades em 2012. Em 2016, foram licenciados no país 2,05 milhões de veículos, uma queda de 20 por cento sobre 2015, informou a Fenabrave.
A própria projeção oficial da entidade já representa uma certa dose de cautela ante expectativa informada no final do ano passado de que as vendas de 2017 cresceriam cerca de 5 por cento.
"Tínhamos indicação do governo que a economia cresceria até 2,5 por cento em 2017. Além disso, a situação política voltou a piorar mais para o final do ano e isso combaliu a economia. O desemprego também não teve melhora e os bancos seguem ainda muito rigorosos na concessão de crédito", afirmou a jornalistas o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Jr.
Ele citou incertezas políticas como as eleições para as presidências das duas casas do Congresso no início de fevereiro como fatores de risco para a economia e para as vendas de veículos. "Após as eleições no Congresso, o governo vai continuar com apoio para fazer as reformas?", questionou Assumpção Jr.
Segundo o presidente da Fenabrave, as vendas do primeiro trimestre deste ano "devem ser melhores que do primeiro trimestre de 2016", mas por causa da sazonalidade devem ser menores que as dos três últimos meses do ano passado.
Para a sócia-diretora da consultoria MB Associados, Tereza Maria Dias da Silva, que assessora a Fenabrave no cálculo das projeções de vendas, "o único risco para o crescimento das vendas de veículos este ano é a queda do (presidente Michel) Temer".
Com baixa popularidade, Temer tenta aprovar reformas polêmicas no Congresso neste ano, especialmente a da Previdência. Ao mesmo tempo, enfrenta o processo que pede no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a cassação da chapa encabeçada por Dilma Rousseff, na qual ele foi reeleito vice-presidente da República.
Segundo Tereza, "o pior já passou do ponto de vista da recessão. O grosso do desemprego já ocorreu e não deve se aprofundar mais, melhorando mais para o final do último trimestre".
Desde o início de 2015 até meados do ano passado, 1.281 concessionárias de veículos do país fecharam as portas, o que implicou em demissões de 126 mil funcionários, disse o presidente da Fenabrave. Ele estimou que até o final de 2016 o número de lojas fechadas deve ter chegado a 1.300.
DEZEMBRO
As vendas de veículos novos no Brasil subiram 14,7 por cento sobre novembro, apoiadas por eventos como pagamento do décimo terceiro salário e mais dias úteis de comercialização, foram 22 dias em dezembro ante 20 em novembro, afirmou o presidente da Fenabrave.
Mas na comparação com dezembro de 2015 houve queda de 10,2 por cento, para 204,4 mil unidades.
No mercado de usados e seminovos (veículos com até três anos de uso), as vendas de dezembro cresceram 19,6 por cento na comparação mensal e 10,5 por cento frente ao mesmo período de 2015, a 1,07 milhão de unidades. No ano passado, este segmento teve vendas de 10,4 milhões de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus, praticamente estável sobre 2015.
O presidente da Fenabrave afirmou que os bancos seguem restringindo crédito para compra de veículos novos, com apenas três pedidos de financiamento aprovados para cada dez.
(Por Alberto Alerigi Jr.)