Por Aluísio Alves e Guillermo Parra-Bernal
SÃO PAULO (Reuters) - A Funcesp, quarta maior gestora de fundos de pensão do Brasil, está reduzindo mais a exposição a ações brasileiras, enquanto vê um caminho longo para correção de distorções econômicas no país, que desestimula o investimento em ativos de maior risco, disseram executivos da instituição nesta quarta-feira.
Após ter reduzido de cerca de 21 para 15 por cento a fatia de ações brasileiras na composição do patrimônio, o fundo está gradualmente trocando parte desses papéis por ativos de companhias do exterior.
"Não tem cenário para investir em ações", disse à Reuters o diretor de investimentos da Funcesp, Jorge Simino. "E também não temos entusiasmo para ativos alternativos."
Entre 2010 e 2014, o Ibovespa, principal índice de ações do país, acumulou desvalorização nominal de 27 por cento. Em todos eles, perdeu para o CDI, termômetro que mede o desempenho dos investimentos em renda fixa.
Atualmente, contou o executivo, cerca de 65 por cento dos 23 bilhões de reais geridos pelo fundo estão investidos em renda fixa e 15 por cento em ações. Uma fatia de 3,5 por cento está em imóveis e outra de 1,5 por cento em empréstimos a sócios dos fundos. Os 15 por cento restantes estão em recursos em caixa e investimentos muito líquidos.
Das aplicações em renda variável, 65 milhões de reais estão em papéis de empresas estrangeiras. Outros 100 milhões devem ir pelo mesmo caminho ainda neste ano, seja via recibos de ações negociados na Bovespa (BDRs) ou cotas compradas via fundos em bolsas no exterior.
"Temos três linhas de ação: estamos privilegiando caixa, temos reduzido a exposição a ações brasileiras e lentamente estamos migrando parte disso para ações fora do Brasil", disse Simino.
Originalmente criado para atender aos funcionários da Cesp (SA:CESP5), a Funcesp é hoje um fundo multipatrocinado, que administra fundos de pensão de outras nove companhias do setor elétrico, incluindo Eletropaulo, CPFL, e Cteep.
Para Simino, medidas recentemente anunciadas pela equipe econômica do governo Dilma Rousseff vão na direção correta, mas ainda é cedo para enxergar uma reversão de expectativas.
"As medidas dos últimos anos desorganizaram a economia de forma profunda", disse. "A lista de tarefas na área econômica é muito ampla e não é nada trivial."
Segundo o executivo, o cenário pode se agravar dependendo de um possível racionamento de energia no país e dos desdobramentos da operação Lava Jato, que investiga um escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras (SA:PETR4) e várias das maiores construtoras do país, o que poderia se espalhar para a cadeia de infraestrutura.
"A situação das empreiteiras pode causar uma crise microeconômica", disse ele.