Por Luiz Guilherme Gerbelli
SÃO PAULO (Reuters) - A calmaria que domina o mercado financeiro brasileiro nos últimos meses pode continuar até o fim do governo do presidente Michel Temer em 2018, mesmo se a reforma da Previdência não for aprovada até lá, sustentada pela força do balanço de pagamentos brasileiro, sem sinais de retirada de dólares.
A avaliação é do fundador e sócio da gestora Mauá Capital e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo. Mas ele ressalta que a tranquilidade que prevê no futuro está condicionada ao tom reformista dos próximos candidatos a presidente e ao cenário internacional, que já tem beneficiado economias emergentes como a brasileira.
"Se os candidatos com maior probabilidade (de vencerem a eleição presidencial) falarem de uma agenda razoável, esse processo positivo deve continuar", afirmou Figueiredo em entrevista à Reuters. "Para o próximo governo, dá tempo (de fazer a reforma da Previdência)", acrescentou.
Apesar de toda a incerteza política e a lenta recuperação da atividade econômica, o Brasil tem colhido bons resultados no setor externo, sobretudo com a balança comercial, que tem registrado sucessivos superávits, e os investimentos produtivos vindos de fora.
Entre janeiro e julho, último dado disponível, o déficit nas transações correntes estava em apenas 2,696 bilhões de dólares e largamente coberto pelos investimentos estrangeiros produtivos, que atingiram 40,364 bilhões de dólares. No mesmo período de 2016, o rombo na conta corrente foi de 12,438 bilhões de dólares.
O bom resultado do balanço de pagamentos indica que há baixo risco de saída de dólares do Brasil, evitando forte valorização da moeda norte-americana e de outras variáveis, como dos juros.
"Como o Brasil tem um balanço de pagamentos saudável, dá um certo teto na piora dos ativos. Se o câmbio não deprecia muito, não tem razão para a curva de juros subir e para o mercado acionário sofrer", afirmou ele, que ficou no primeiro escalão do BC de 1999 a 2003.
Desde que Temer assumiu a Presidência, em maio do ano passado, o dólar recuou de 4 reais para a faixa de 3,15 reais e tem se mantido nesse patamar. A bolsa de valores subiu de 50 mil pontos para a faixa de 70 mil pontos, voltando ao maior nível desde o início de 2011.
Figueiredo também vê sinais claros de que a economia brasileira está se recuperando após dois anos seguidos de recessão. Para 2017, estima avanço de 0,5 por cento do PIB e, em 2018, de 2 por cento, acima da sua previsão inicial de 1,5 por cento.
"A dúvida ainda é se a recuperação será muito lenta ou não, mas a economia brasileira dá mais sinais positivos do que se pensava", disse.
Os indícios da recuperação, afirma ele, estão começando a se espalhar mais, com a melhora da confiança, na área de crédito e nas vendas do varejo.
A queda da taxa básica de juros também deve ser mais um fator a contribuir para a melhora da atividade, uma vez que barateia os custos dos empréstimos e estimula o consumo e os investimentos. Na projeção de Figueiredo, a Selic deve encerrar este ano a 6,75 por cento, nova mínima histórica, e permanecer neste patamar pelo próximo ano. Atualmente, ela está em 9,25 por cento.