Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs fecharam a quinta-feira em alta, em especial entre os contratos de 2026 a 2029, com a curva de juros reagindo ao avanço dos rendimentos longos dos Treasuries e aos dados do varejo brasileiro, em meio também às preocupações com a área fiscal doméstica.
No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2025 -- que reflete as apostas para a Selic no curtíssimo prazo -- estava em 11,118%, ante 11,109% do ajuste anterior.
A taxa para janeiro de 2026 estava em 12,58%, ante o ajuste de 12,503%, e o vencimento para janeiro de 2027 marcava 12,69%, ante 12,589%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,57%, ante 12,533%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,48%, ante 12,457%.
Um dos principais pontos de atenção do dia, o índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,2% em setembro, levemente acima do 0,1% projetado por economistas consultados pela Reuters. Nos 12 meses até setembro, o índice avançou 2,4%, ante os 2,3% projetados.
Para alguns profissionais do mercado, o resultado corroborou a expectativa de que o Federal Reserve tende a cortar os juros em apenas 25 pontos-base em novembro -- e não em 50 pontos-base, como fez em setembro.
“Vemos uma expectativa de que o Fed reduza menos os juros, reforçado pelo CPI de hoje, com o dado de inflação um pouco acima das expectativas”, comentou Rafael Sueishi, head de renda fixa da Manchester Investimentos. “A correção dos Treasuries acaba pressionando nossa curva de juros”, acrescentou.
No Brasil, dados do varejo indicaram que a atividade econômica segue aquecida, o que pressiona a inflação. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que as vendas varejistas tiveram queda de 0,3% em agosto na comparação com o mês anterior. O resultado foi um pouco melhor do que a expectativa em pesquisa da Reuters, de recuo de 0,5%.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, os dados mostraram que houve alta de 5,1%, acima da expectativa de avanço de 3,6%.
A desconfiança em relação à capacidade do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de equilibrar as contas públicas no Brasil também seguiu sustentando as taxas futuras.
Durante a tarde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a tributação de milionários é uma das alternativas em avaliação no governo para compensar perdas na arrecadação com correções adicionais da tabela do imposto de renda.
A promessa do presidente Lula é elevar a faixa de isenção do IR para quem tem renda mensal de até 5 mil reais. Atualmente, a isenção vale para valores equivalentes a dois salários-mínimos, ou 2.824 reais por mês.
Neste cenário, a taxa do DI para janeiro de 2027 -- um dos mais líquidos -- marcou a máxima de 12,72% às 14h13, em alta de 13 pontos-base ante o ajuste da véspera.
“A pressão maior ocorreu nos vencimentos intermediários, o que reforça a tese de que os agentes compraram a narrativa de que o Banco Central, mesmo com a nova presidência, deve continuar perseguindo a meta de inflação e fazendo o dever de casa. Isso pressiona mais o miolo da curva”, disse Sueishi.
Na ponta curta, a precificação pouco mudou. Perto do fechamento, a curva precificava 93% de probabilidade de alta de 50 pontos-base da taxa básica Selic em novembro, contra 7% de chance de elevação de 75 pontos-base. Na quarta-feira os percentuais eram de 95% e 5%, respectivamente.
No exterior, os rendimentos curtos cediam no fim da tarde, enquanto os longos se mantinham em alta. Às 16h37, o rendimento do Treasury de dois anos -- que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo -- tinha queda de 4 pontos-base, a 3,98%. Já o retorno do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- subia 2 pontos-base, a 4,082%.
Conforme a ferramenta CME FedWatch, a curva norte-americana precificava 84,3% de probabilidade de corte de 25 pontos-base dos juros dos EUA em novembro, contra 15,7% para manutenção da taxa na faixa de 4,75% a 5,00%.